quinta-feira, 5 de setembro de 2013

O POR QUE DA NECESSIDADE DO “GRITO DOS EXCLUIDOS”

O modelo que organiza a nossa sociedade é piramidal, quer dizer, é aquele que nos divide em superiores e inferiores, atrasando o desenvolvimento humano mais pleno, resultando na pobreza existente no meio de nós. Os que governam no espírito deste modelo não mostram preocupação com as necessidades prioritárias dos que vivem do lado “debaixo” da sociedade. É como cantava Chico Science: “Os de cima sempre sobem e os debaixo sempre descem”. Alguns exemplos esclarecem esta afirmação, porém merecem um olhar mais crítico para nos conscientizarmos.

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Desde dezembro de 2011 até nos dias de hoje, o Ceará e todo o Nordeste estão enfrentando a maior seca dos últimos 40 anos. Resultado: milhares de pessoas em extrema pobreza, passando fome e sede, obrigadas a deixarem seus vilarejos, a fim de se refugiarem nas favelas das capitais. Centenas de milhares de cabeças de gado perdidas. Muitos municípios sem carros-pipa para, ao menos, fornecer água para o povo beber: faltam carros, falta água, da água que é levada “60% está contaminada”, falta logística, falta tudo, porque não é liberado dinheiro suficiente, nem montado um esquema de tal amplitude que dê um basta a esta miséria. Enquanto isso ... (apenas alguns dados) o Estado do Ceará gastou, nos últimos dois anos, 518,6 milhões de reais na reforma do estádio do Castelão, 486 milhões no novo Centro de Convenções, liberou 250 milhões de reais para aquele inútil e ridículo aquário, “o Estado prevê R$ 3,4 milhões para buffet com caviar e lagosta.”, e ainda gastou 600.000 reais para o cachê da cantora Ivete Sangalo na inauguração do hospital regional em Sobral, onde, até hoje, continuam a faltar médicos. Aqui não se trata somente de mau uso de dinheiro público, e sim de ilimitado cinismo e obscenidade moral em relação a qualquer princípio básico de ética junto ao povo cearense.

Vendo todas estas obras, podemos observar que, primeiro, há dinheiro suficiente e, segundo, que temos no nosso país tecnologia de ponta e que há, quando queremos, excelente planejamento, rapidez e exatidão na execução das obras. Perguntamo-nos: porque estas mesmas capacidades não se aplicam também para tirar o povo do sertão da situação de miséria? Porque sempre se dispõe de bastante dinheiro para obras faraônicas, e nunca há o suficiente para estampar um sorriso no rosto da nossa criançada pobre, seus pais e avós, bem perto aí, no sertão e nas periferias das nossas cidades maiores? Porque não se emprega tecnologia de ponta, logística e planejamento que funcionem para providenciar água no sertão?

Querem saber por quê? Porque são feitas opções, colocadas prioridades, e estas, dificilmente, visam resolver os problemas enfrentados pelo povo. Também, e isto é revoltante, porque voltamos aos tempos dos antigos romanos, quando havia aquela política do “panis et circenses”, a política “do pão e do circo”, o que significa blindar a visão e o entendimento da população com obras vislumbrantes, isto é, que cegam a vista para aquilo que está acontecendo na realidade da vida. Dou-me o direito de perguntar: até quando aceitamos ser enganados pelo “pão e circo” do século XXI, orquestrado por nossos governantes?

Por isso é preciso participar do “Grito dos Excluídos”, a fim de (1) levantarmos nossa voz contra os gastos exorbitantes com projetos faraônicos de características megalomaníacas abusadas, (2) abrirmos nossos olhos, a fim de percebermos o enorme abismo de poder aquisitivo entre os poucos ricos e os muitos pobres em nossa cidade, e (3) discutirmos, a partir da vida e da visão dos pobres, meios de acabar com a insana desigualdade social.

Este mês se completaram 50 anos que Martin Luther King, proferiu suas proféticas palavras: “Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença, que os homens são criados iguais”.

Mais uma observação e a consequente perguntinha básica: como o “Grito” é um movimento que nasceu dentro da Igreja Católica, com total apoio da CNBB, pergunto-me qual explicação se dá ao fato que há, nos últimos anos, uma presença tão fraquinha por parte do clero e de religiosos e religiosas, e, consequentemente, do povo das paróquias e dos ‘fiéis’ em geral. Se o Evangelho nos ensina que somos chamados por Jesus a sermos “sal da terra” e “luz do mundo” (cf. Mt. 5, 13-16), todas e todos que forem liberados para o serviço ao povo,  não podem esquivar-se desta missão e, como nos alerta o Papa Francisco, devem optar, de fato, por “uma Igreja pobre e dos pobres”. E o Papa explica mais: “Os padres devem estar próximos do povo, em particular nas periferias humanas”.

Quero crer que o “Grito dos Excluídos” sempre é uma oportunidade para mostrarmos a nossa cara verdadeira. Tenhamos cuidado para que a Igreja, como nos dizia Dom Helder, “não fique apenas em aplausos!”

Fortaleza, 05-09-2013,

Geraldo Frencken

 

07 DE SETEMBRO: GRITO DOS EXCLUÍDOS
CONCENTRAÇÃO: 15:00 H.
(EM FRENTE AO SEMINÁRIO DA PRAINHA)
CAMINHADA RUMO AO AQUÁRIO

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