segunda-feira, 19 de novembro de 2012

ANO DA FÉ

Sua Santidade, o Papa Bento XVI, decidiu proclamar um “Ano da Fé”. Começará no dia 11 de outubro de 2012, no cinquentenário da abertura do Concílio Ecumênico Vaticano II, e aniversário de vinte anos da publicação do Catecismo da Igreja Católica, e terminará na Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, no dia 24 de novembro de 2013. Nesse mesmo mês estaremos vivendo mais um Sínodo dos Bispos, cujo tema será sobre a Nova Evangelização.

Todos nós, os católicos, devemos participar desse ano com “todo seu coração, com toda sua alma e com todo seu entendimento” (Mt 22,37). Mas qual é o sentido do Ano da Fé? A fé ainda tem espaço em nossa cultura secularizada? Em um mundo cheio de misérias, fome, guerras, onde Deus parece não ter lugar e nem vez, não seria uma alienação proclamar um Ano da Fé? Para que serve a fé?

Esses e outros interrogantes são propostos aos cristãos. Respondê-los se faz necessário para todos os que desejam viver sua fé com consciência, e não apenas como uma herança de seus pais e avós esquecida e guardada em um canto perdido da própria vida, e que não possui nenhuma incidência concreta no modo de viver, pensar, ser e relacionar-se.

O cristão diante dessa problemática não se cala e nem deve se calar. Devemos descobrir na oração os desígnios de Deus e dar respostas adequadas. Gostaria de convidá-los a percorrer comigo um itinerário que nos leve a descobrir o significado, importância e necessidade do Ano da Fé.
a. O Ano da Fé significa agradecer
O ser humano, em seu estado natural, possui inteligência e vontade com potencialidades infinitas. A beleza que surge das mãos dos homens é um reflexo da beleza que surge das mãos do Criador. No entanto, não quis Deus que o homem permanecesse apenas em seu estado natural e nos deu o dom da fé.

O dom da fé e da graça eleva o homem ao estado sobrenatural, somos filhos de Deus (1Jo 3,1). Neste estado podemos dizer com São Paulo “Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gal 2,20). O estado sobrenatural não está em conflito com o estado natural. A graça não destrói a natureza, a supõe, eleva e aperfeiçoa.

A fé nos eleva a uma condição superior, mas não de superioridade. É na vivência profunda da fé que o homem se encontra completamente consigo mesmo e com o outro, e realiza plenamente a vocação a que foi chamado.

Cristo é nosso Senhor e nos convida a contemplar o mundo e seus irmãos com novos olhos. A fé, bem acolhida e cultivada, nos oferece uma lente que permite perceber a realidade com o coração de Deus. Por isto, o cristão não é indiferente aos assuntos do mundo. O sofrimento e a dor que assolam a humanidade devem ser sentidos, sofridos e compadecidos com maior intensidade por aqueles que se declaram apóstolos de Cristo. É com o amor de Deus que amamos o mundo.

A fé não é alienação, ao contrário, é trazer ao mundo um pouco do divino, é lapidar a beleza da criação muitas vezes escondida pela nuvem do pecado. A verdadeira alienação é não acolher, cultivar e promover o dom da fé. A busca de infinito que permeia o coração humano encontra nela seu porto seguro, pois somente através desse magnífico dom descobrimos quem realmente somos. Como dizia Santo Agostinho: “Fizeste-me para Ti, Senhor, e o meu coração inquieto está enquanto não descansa em Ti” (Confissões, l.1, n.1). Elevemos todos uma oração de agradecimento a Deus pelo dom da Fé que nos enriquece, fazendo-nos mais humanos e filhos de Deus.
b. No Ano da Fé é necessário dar razões
São Pedro, em sua epístola, nos convida a dar razões de nossa esperança. “Estai sempre prontos a responder para vossa defesa a todo aquele que vos pedir a razão de vossa esperança, mas fazei-o com suavidade e respeito.” (1Pe. 3,15)

Não basta celebrar. A verdadeira ação de graças ao Senhor exige que desenvolvamos o dom recebido. A fé é a resposta que o coração humano naturalmente anseia encontrar. No entanto, o dom da fé não exclui a necessidade de utilizar o dom da razão para compreender melhor os mistérios revelados por Deus, de fazê-los compreensíveis e acessíveis ao homem em cada momento histórico. Existe a inteligência da Fé que deve ser, unida à luz da graça, desenvolvida a fim de que cada cristão possa aderir com maior liberdade às verdades reveladas.

Só a partir de uma livre, consciente e renovada adesão à própria fé haverá plena responsabilidade na vivência e testemunho desse dom. É aqui onde dom e resposta, graça divina e liberdade humana devem se dar as mãos para que a fé possa cair em terra fértil, semear e dar frutos em abundância.

Esforcemo-nos por conhecer profundamente a fé que professamos. Criemos grupos de estudos e reflexão, estudemos nossa história.

Possuímos um instrumento maravilhosamente privilegiado para esta finalidade: o Catecismo da Igreja Católica, que se apresenta também no formato de compêndio e no formato para jovens, o YouCat, lançado na Jornada Mundial da Juventude em Madri. Todos são fontes riquíssimas para alimentar nossa alma e nossa inteligência. Temos também o Compêndio da Doutrina Social da Igreja, os documentos do Concilio Vaticano II, as encíclicas papais e, acima de tudo, a Sagrada Escritura.
Utilizemos as ferramentas que a sociedade moderna nos oferece para nos atualizarmos, conhecermo-nos e encontrarmo-nos. É louvável a iniciativa de diversos grupos de jovens que, na impossibilidade de encontrar-se fisicamente com frequência, utilizam os bate-papos, os grupos que as diversas mídias sociais oferecem. Desejo, vivamente, que estes grupos se multipliquem. É importante que estejam guiados por uma pessoa ou que tenham um moderador ou consultor com conhecimentos filosóficos e teológicos, que iluminem e ajudem a entender melhor a própria fé.

Pelo batismo, somos, desde já, cidadãos do Céu, mas devemos ser conscientes dessa tão alta dignidade. Não devemos nos acanhar diante dos desafios que o mundo apresenta. A Igreja não possui apenas dois mil anos de história, mas ela e, consequentemente cada um de nós que estamos em comunhão com a Igreja, possuímos a assistência do Logos Divino, da sabedoria eterna, que nos é dada através dos dons do Espírito Santo. Não devemos ter medo de dialogar com o mundo contemporâneo. É nossa missão evangelizar a cultura. Como afirma Bento XVI, "a Igreja nunca teve medo de mostrar que não é possível haver qualquer conflito entre fé e ciência autêntica, porque ambas, embora por caminhos diferentes, tendem para a verdade."(Porta Fidei, n. 12). Sejamos os promotores da Verdade na caridade, e da caridade na Verdade.

c. No Ano da Fé é importante proclamar
Bento XVI, com muita sabedoria, alerta que muitos cristãos sentem "maior preocupação com as consequências sociais, culturais e políticas da fé do que com a própria fé, considerando esta como um pressuposto óbvio da sua vida diária." (Porta Fidei,2) Diante dos desafios que nos apresentam a sociedade secularizada, nossa primeira reação é lançar-nos a fazer algo. Desejamos, justificadamente, e nos esforçamos, com boas intenções, por unir pessoas, grupos e entidades para combater aquilo que consideramos como nocivo ao cristianismo e à humanidade.

Considero importantes todas as iniciativas que visam promover nossa fé e incidir positivamente na sociedade e que contenham o avanço do mal que se alastra em nossa cultura. Mas, o que seriam dessas iniciativas de luta e de força, de combate e embate sem a fé? Não vejo os primeiros cristãos se conjurando para dominar as instituições através da força e do poder. A ação mais importante e fecunda de nossos primeiros irmãos foi, a partir de experiência que nasce do encontro pessoal com Cristo, testemunhar com a própria vida que Deus existe. Os pagãos se sentiam atraídos pela beleza da fé católica e pela caridade com que viviam os primeiros cristãos, e chegavam a exclamar: “Vede como se amam” (Tertuliano, Apol.,39).

É na caridade, na alegria, no entusiasmo e na felicidade da vivência de nossa fé que iremos permear o mundo da esperança e do amor cristão. É no respeito, no diálogo aberto, sincero e inteligente que construiremos pontes entre a Fé e o mundo contemporâneo. Já existem muitos muros!

Aprendamos a difícil arte de escutar, entender, compreender e defender sem medo nossa fé, com serenidade e respeito.

A evangelização e nossas ações sociais só produzirão efeito a partir do momento em que cada cristão tiver um encontro pessoal com Cristo.

Nossa fé não é fruto de uma decisão, mas de um encontro, e só a partir desse encontro nossa evangelização será uma luz que atrai por sua beleza divina.

Onde se realiza esse encontro? Não se é cristão sozinho. O ser humano é um ser social por natureza. É na comunidade de fé e na Igreja, como custódia dos sacramentos de Cristo, que encontraremos, renovaremos e promoveremos nossa fé. Só podemos nos dizer plenamente cristãos se encontrarmos nossos irmãos na oração, na eucaristia e na reconciliação.

Sem comunidade não há família cristã. É através do mistério do Corpo Místico de Cristo onde toda a Igreja se encontra. É na liturgia e nos sacramentos que toda ação tem sentido. "Sem a liturgia e os sacramentos, a profissão de fé não seria eficaz, porque faltaria a graça que sustenta o testemunho dos cristãos." (Porta Fidei, n.11)

É na vivência comunitária de nossa Fé que encontramos o amor de Cristo. «Caritas Christi urget nos – o amor de Cristo nos impele» (2 Cor 5, 14). Sua Santidade afirma que “é o amor de Cristo que enche os nossos corações e nos impele a evangelizar. Hoje, como outrora, Ele envia-nos pelas estradas do mundo para proclamar o seu Evangelho a todos os povos da terra (cf. Mt 28, 19).” (Porta Fidei, n.7)

O amor de Deus cria! A palavra criação possui a mesma raiz grega da palavra poesia “poietés”. Assim, Deus é o verdadeiro poeta e nós somos um poema de Deus. Por isso, é impossível não ficar admirando, contemplando o sol que nasce no horizonte, ou a lua cheia que cresce por trás dos montes. A natureza são versos divinos que nos remetem a Deus. Aqui, em nossa cidade maravilhosa, temos o momento e local para aplaudir o pôr do sol. No entanto, afirmo que não há maior milagre e poesia mais bela do que o olhar e o sorriso de um cristão que vive no mundo com coerência, simplicidade e entusiasmo a sua fé.

O católico tocado pela fé é uma das provas e evidências mais fortes da existência de Deus. Quando conheço um cristão coerente, vejo um milagre da criação. Vejo Deus na Terra e percebo que não há trevas que possam invadir um mundo dominado pela luz da fé, pelo sal do testemunho e pelo bálsamo da caridade. Em cada um de nós, de certo modo, se realizam de maneira plena as palavras de Cristo: “Eu estarei convosco todos os dias, até o fim dos tempos (Mt 28,20).

Peçamos a Nosso Senhor Jesus Cristo a graça de viver nossa fé com toda nossa alma, com todo nosso coração e com todo nosso entendimento. Só assim seremos o que temos de ser e transformaremos o mundo. Só em Cristo, por Cristo e com Cristo conseguiremos transmitir os tesouros de nossa fé e incidir positiva e efetivamente na sociedade. Não tenhamos medo de falar daquilo que preenche nosso coração; não tenhamos medo de falar d'Aquele que dá um sentido último às nossas vidas. Subamos nos telhados e nos preparemos para anunciar com amor que o Amor existe, se fez carne e habita em nós e está entre nós.

Preparemo-nos, através da oração, da adoração, da eucaristia, da reconciliação e da missão pessoal e comunitária para o Ano da Fé, que coincidirá, para o nosso júbilo, com a preparação e a realização da JMJ Rio 2013!
† Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

CARTA APOSTÓLICA ANO DA FÉ

Foi publicada a Carta Apostólica de Bento XVI referente ao "Ano da Fé", anunciado no domingo, 16 de outubro de 2011, pelo Papa durante a Celebração Eucarísitca na Basílica Vaticana.
Dividida em quinze partes, a Carta apresenta as intenções pessoais do Sumo Pontífice, sem a interferência de nenhuma fonte interna ou externa.
Carta Apostólica sob forma de Motu Proprio

Porta fidei
do Sumo Pontífice Bento XVI pela qual se proclama o Ano da Fé
 
 
 

Teologia da Libertação e esperança dos pobres

 
Por Padre Almir Magalhães

A Teologia da Libertação alcançou, no ano passado, 40 (quarenta) anos de sua existência, se considerarmos como ato teórico fundacional que deu nome ao movimento teológico mais importante nascido na América, o livro do Teólogo Peruano Gustavo Gutierrez, intitulado TEOLOGIA DA LIBEERTAÇÃO, Perspectivas, de 1971.

Esta Teologia sofreu críticas internas e externas, aceita por muitos, mal compreendida por outros, sofreu distorções em torno de sua compreensão. Ela foi objeto de dois documentos oriundos da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé: o primeiro, em 6 agosto de 1984 intitulado Libertatis Nuntius, ( reflete sobre alguns aspectos da TdL) considerado mais negativo e chamava a atenção para os perigos de desvios prejudiciais à fé e à vida cristã, sobretudo em relação ao corte marxista da mesma; o segundo, em 22.3.86, intitulado Libertatis Conscientia, (sobre a Liberdade Cristã e a Libertação), considerado como de um tom mais positivo. Este segundo documento foi objeto de citação pelo Papa João II numa carta aos Bispos da CNBB datada de 9.4.86, por ocasião do encerramento da Visita Ad Limina, oportunidade em que o mesmo assim se expressou:

Na medida em que se empenha por encontrar aquelas respostas justas – penetradas de compreensão para com a rica experiência da Igreja neste País, tão eficazes e construtivas quanto possível e ao mesmo tempo consonantes e coerentes com os ensinamentos do Evangelho, da Tradição viva e do perene Magistério da Igreja – estamos convencidos, nós e os Senhores, de que a teologia da libertação é não só oportuna mas útil e necessária. Ela deve constituir uma nova etapa – em estreita conexão com as anteriores – daquela reflexão teológica iniciada com a Tradição apostólica e continuada com os grandes Padres e Doutores, com o Magistério ordinário e extraordinário e, na época mais recente, com o rico patrimônio da Doutrina Social da Igreja, expressa em documentos que vão da Rerum Novarum à Laborem Exercens.

Dois aspectos continuam relevantes na TdL e válidos para todos os cristãos: a práxis, ou seja, a TdL nos motiva para uma prática, para uma concretude que se expressa em estar junto aos que sofrem, em conhecer, participar, refletir e agir diante da vida dos irmãos e da natureza; a mediação disso é a opção preferencial pelos pobres. Com as transformações sociais estes tomaram novos rostos, mas continua o referencial do empenho pela dignidade humana, pela defesa da vida. Esta presença cristã, na fidelidade ao Evangelho é gestadora de esperança. Neste sentido, a TdL nos convida a uma ascese: mudar o perfil de nossas práticas, restritas à vida íntima da Igreja, sair da sacristia e ir ao encontro do próximo não para ensinar, fazer exigências sacramentalistas, mas para partilhar, ser solidário.

O segundo elemento é de ordem político-pedagógica: evitar o assistencialismo e a prática da caridade reduzidas a cestas básicas, sopões e similares (a não ser em casos emergenciais) e considerar o pobre como interlocutor, SUJEITO DE SUA HISTÓRIA, com motivações evangélicas, como cidadãos do mundo, com deveres e direitos. Aqui o destaque é para o valor da dignidade humana. O pobre não deve ser objeto de favores, de concessões, de medidas compensatórias, mas pessoas capazes de construir, a partir da esperança, um lugar, um bairro, uma sociedade diferentes.

Intriga-me sobremaneira as reações dos agentes de pastoral (padres, leigos, bispos) sobre a TdL sem conhecê-la. Constroem seus conceitos unicamente a partir de um patrimônio de críticas que foram elaboradas e repetem-nas utilizando aquilo que criticam, o ideológico. Por isso faço um convite – conheçam a TdL, leiam os dois documentos da Cúria Romana a respeito dela, conheçam o Pensamento Social da Igreja, as Encíclicas Sociais… abram os horizontes para além dos conceitos, idéias, chaves de leituras que concordam e assim o diálogo com o diferente pode tornar-se frutuoso. Nada de fechamento.

*Sacerdote da Arquidiocese de Fortaleza, Dirietor Geral e Professor da Faculdade Católica de Fortaleza.

Artigo publicado no Jornal O Povo em

Comunicação digital e a Igreja

Pe. Dr. Brendan Coleman Mc Donald – Redentorista

O fenômeno da midiatização do sagrado está cada vez mais presente nos meios de comunicação. Hoje existe uma coisa chamada “ciber-religião” que se resume a experiências religiosas que ocorrem no ciberespaço e na cibercultura. Acredito que a Igreja Católica precisa melhorar muito neste campo. A sociedade contemporânea vive em um mundo que é multiplataforma (equipamentos) e digital. A cultura das pessoas e, especificamente, a dos jovens, modificou-se profundamente. Hoje, o jovem está no Facebook, Youtube, Twitter, Orkut, Blogs, iPhones etc. As informações são obtidas muito mais de modo digital do que nos meios convencionais. Tudo isso apresenta um enorme desafio para a Igreja Católica, que deve comunicar com os técnicos e linguagem da mídia, a mensagem evangélica de uma maneira rápida, contemporânea e adequada.

Quando Jesus falou sobre o Reino de Deus, Ele usou elementos da cultura e ambiente daquela época: o rebanho, a figueira, o banquete, as sementes, a festa do casamento, o joio e o trigo etc. Nós não podemos falar hoje como falávamos trinta ou até vinte anos atrás. Hoje a cabeça do jovem e sua percepção é outra. O Beato João Paulo ll definiu os mass media como “o primeiro areópago dos tempos modernos” declarando que “não é suficiente, portanto, usá-los para difundir a mensagem cristã, mas é necessário integrar a mensagem nesta ‘nova cultura’ criada pelas modernas técnicas de comunicação”. No ano passado, no Dia Mundial das Comunicações, o Papa Bento XVl afirmou “que a web (rede) não é mais instrumento, mas um ambiente de vida” e convidou as pessoas “não a usar bem a rede, mas a viver bem no tempo da rede”. Precisamos, portanto, transmitir profissionalmente a mensagem cristã por todas as plataformas.

No site, o público pode acessar uma rádio online, participar de fóruns e chats, ler artigos, adquirir produtos na loja virtual e até fazer cursos à distância. Há igrejas não católicas que perceberam logo a importância do ciberespaço e da cibercultura para comunicar e difundir suas mensagens religiosas. Houve enorme sucesso neste investimento por eles. A Igreja Católica precisa entrar nestes espaços com seus programas de evangelização. O depósito da verdade cristã precisa ser transmitido por todas as plataformas disponíveis. Estes programas, levando em consideração a lógica da rede e suas potentes metáforas que trabalham sobre o imaginário, devem incluir: leituras e explicações Bíblicas; o modo de compreender a Igreja e a comunhão eclesial; eventos litúrgicos; orientações sobre os sacramentos e os temas clássicos da teologia moral católica. A Igreja precisa enfrentar com coragem os novos desafios que o ciberespaço e a cibercultura nos trouxeram para compreender e usar as várias plataformas na comunicação digital por fins de evangelização.

Pe.Brendan Coleman Mc Donald, redentorista e assessor da CNBB Reg. NE1

Concílio e Ano da Fé

 
O dia 11 de outubro, data comemorativa da abertura do Concílio, foi também escolhido como data de abertura do Ano da Fé. Assim, o Ano da Fé se apresenta como vinculado ao Concílio Vaticano II.

Existe uma insistência proposital em torno desta data de onze de outubro. Tudo para enfatizar a importância eclesial do Concílio.

A Carta Apostólica de convocação do Ano da Fé é datada no dia 11 de outubro de 2011. A publicação do Catecismo da Igreja Católica, também ocorreu num dia 11 de outubro, em 1992. E agora, o Ano da Fé tem o seu início oficial neste dia 11 de outubro de 2012, jubileu do Concílio.

Tanta insistência não deixa de ter um significado especial. É o próprio Papa Bento XVI que a vincula com os objetivos do Ano da Fé, dizendo em sua Carla Apostólica “Porta Fídei”:

“Pareceu-me que fazer coincidir o início do Ano da Fé com o cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II poderia ser uma ocasião propícia para compreender que os textos deixados em herança pelos Padres Conciliares, não perdem o seu valor nem a sua beleza”.

Portanto, o Ano da Fé foi colocado em conexão direta com o Concílio. Foi a maneira de vincular a fé da Igreja com a proposta de renovação eclesial apresentada pelo Concílio.

É também um convite a valorizar mais os documentos do Concílio, que permanecem como bússola segura a iluminar os passos da Igreja no início deste novo milênio, como afirmou João Paulo II na Exortação Apostólica Tertio Millenio Ineunte.

Se recordamos que o Concílio levou quatro anos para se concluir, e que, portanto faltam ainda quatro anos para celebrarmos o seu encerramento, nos damos conta que este Ano da Fé se insere no contexto mais amplo, de uma sequência que poderá continuar. Nada obsta que tenhamos um “Ano da Esperança”, e se acontecer este, todo mundo vai ficar aguardando o “Ano da Caridade”.

Em todo o caso, o fato consistente é a insistência de evocar o Concílio como referência para a Igreja discernir os passos que precisa dar em nosso tempo, marcado por tantas transformações, que afetaram inclusive a própria vida da Igreja. Retomar sua identidade, e assumir sua missão, permanece como o desafio maior da Igreja em nosso tempo.

Esta vinculação profunda entre Concílio e Fé foi simbolizada na imponente cerimônia da abertura oficial do Concílio, em 11 de outubro de 1962. Um dos primeiros atos da celebração foi a solene profissão de fé, feita pelo Papa João XXIII, ajoelhado diante de todos os bispos, expressando a fé da Igreja, de forma solene, de acordo com o “Credo niceno constantinopolitano”, como para dizer que o Concílio não iria contradizer o “tesouro da fé”, recebido dos apóstolos.

A primeira tranquilidade que brota de dentro de nós, quando empreendemos qualquer iniciativa, é a certeza de contar com a bênção de Deus. Foi o que procurou fazer João XXIII, ao professar solenemente sua fé católica no momento de abrir o Concílio Ecumênico.

Tendo assumido o complexo tema referente à Igreja de Cristo, a partir do Concílio é possível recuperar todos os grandes artigos de nossa fé. A começar pela constatação de que a Igreja é chamada a ser o reflexo da comunhão trinitária, da qual passamos a fazer parte pelo dom da fé, que nos envolve em comunhão fraterna.

Com este Ano da Fé fica fortalecido o significado do Concílio, incentivando-nos a acolher os seus autênticos ensinamentos, e sobretudo, deixando-nos imbuir do seu espírito de renovação eclesial.

Por Dom Demétrio Valentini - Bispo de Jales (SP).

A política e a caridade

 

No dia 14 de maio de 1971, o Papa Paulo VI deu a conhecer uma Carta Apostólica sua intitulada OCTOGESIMA ADVENIENS (OA) para homenagear os 80 anos do primeiro documento sobre o Ensino Social da Igreja, a RERUM NOVARUM (15.05.1891).

Na AO, há uma frase do Papa que merece a atenção dos cristãos. No nº. 46, o Papa trata do significado cristão da ação política e afirma: “A política é uma maneira exigente, se bem que não seja a única, de viver o compromisso cristão, a serviço dos outros”. Esta mesma frase tem sido traduzida simplesmente por: “A política é forma sublime de exercer a caridade”.

Os dois termos, política e caridade, podem vir carregados historicamente de interpretações ambíguas. Via de regra as pessoas consideram a política como uma atividade que é exercida só por “políticos” profissionais, diretamente filiados a determinados partidos, e, de maneira equivocada se ausentam de seu papel, até mesmo odiando a política, deixando livres aqueles para os quais transferem a responsabilidade na gestão dos interesses coletivos (educação, saúde, mobilidade urbana, segurança, políticas públicas…).

Neste sentido o momento das eleições nos vários níveis se reveste de uma importância ímpar porquanto “o sujeito da autoridade política é o povo considerado na sua totalidade como detentor da soberania. O povo transfere o exercício de sua soberania para aqueles que elege livremente como seus representantes, mas conserva a faculdade de a fazer valer no controle da atuação dos governantes e também na sua substituição, caso não cumpram de modo satisfatório as suas funções” (cf. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, do Pontifício Conselho Justiça e paz, Paulinas, 2005, n. 395). Vejam que há aqui uma diferença enorme entre o que o povo pensa quando elege alguém e a essência do papel do político eleito. Pode-se afirmar, pois, numa linguagem popular, que aqueles que elegemos são nossos funcionários. Por tudo o que acontece na contramão, é que existem grupos que advogam a idéia de não votar, desiludidos com a política que existe para administrar um modelo esgotou possibilidades.

Por outro lado o termo caridade sempre foi entendido de forma muito assistencialista, de ter “peninha” de alguém que sofre, dando-lhe algumas moedinhas, migalhas, oferecendo-lhe sopões, cestas básicas. A caridade, no entanto, deve ser entendida em sua tríplice dimensão: emergencial, promoção humana e transformação social.

É explicitamente na terceira dimensão que entra a caridade com seu caráter político, do bem comum e de acordo com a perspectiva colocada pelo Papa Paulo VI no documento aqui referido. Ela incorpora o aspecto prioritário do bem comum. Sair da mentalidade de resolver com os políticos coisas pessoais e de seus interesses e a partir de trocas (inclusive do voto). É deixar de pensar no campo da política somente no bem estar pessoal, característica da atual sociedade onde há a ditadura do individualismo para pensar no bem estar coletivo. É evitar resolver os problemas por cima, através de uma liderança que é amiga de algum vereador, deputado estadual, ajudando o grupo, a comunidade a crescer, envolvendo as pessoas nos encaminhamentos comuns, interpretando e aprendendo das práticas dos políticos profissionais, das demoras, das respostas, enfim exigindo e exercendo o controle social. É o princípio da alteridade, uma saída de si rumo à humanidade, rumo aos problemas que afetam sua comunidade.

Será que existe, do ponto de vista político e fundamentalmente cristão, uma forma mais preciosa de praticar a caridade com os outros? Pensemos por exemplo numa comunidade onde não passa o saneamento básico, esgoto a céu aberto, raiz de doenças e as pessoas motivadas pela cidadania, pela caridade e pela dignidade humana buscam resolver a questão coletivamente. É interessar-se pela qualidade da vida, da vida em abundância que Jesus Cristo proclamou e viveu e testemunhar uma espiritualidade do seguimento.

Campanha da Fraternidade 2013

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil acabou de publicar o Texto – Base da Campanha da Fraternidade para o ano de 2013. “Fraternidade e Juventude” é o tema da Campanha para a quaresma em 2013. O lema é inspirado no profeta Isaías 6,8: “Eis-me aqui! Envia-me”. Nas palavras de Dom Leonardo Ulrich Steiner, Secretário Geral da CNBB: A Igreja no Brasil deseja, no contexto do Ano da Fé, “repropor Juventude como tema da Campanha, nesse tempo de mudança de época, desejando refletir e rezar com os jovens, representando-lhes o Evangelho como sentido de vida e, ao mesmo tempo, como missão”. A C.F de 2013 já anuncia a Jornada Mundial da Juventude, assumindo como lema o espírito missionário da JMJ 2013 indicado pelo Santo Padre Bento XVl, Ide e fazei discípulos entre todas as nações (cf. Mt 28,19). A Igreja quer que os jovens sejam verdadeiros missionários e missionárias no sentido de jovens evangelizando jovens: “Eis-me aqui! Envia-me”.

O Objetivo Geral da C.F. de 2013 é “Acolher os jovens no contexto de mudança de época, propiciando caminhos para seu protagonismo no seguimento de Jesus Cristo, na vivência eclesial e na construção de uma sociedade fraterna fundamentada na cultura da vida, da justiça e da paz”. Há também três objetivos específicos: (i) Propiciar aos jovens um encontro pessoal com Jesus Cristo a fim de contribuir para sua vocação de discípulo missionário e para a elaboração de seu projeto pessoal de vida; (ii) Possibilitar aos jovens uma participação ativa na comunidade eclesial, que lhes seja apoio e sustento em sua caminhada, para que eles possam contribuir com seus dons e talentos: (iii) Sensibilizar os jovens para serem agentes transformadores da sociedade, protagonistas da civilização do amor e do bem comum.

O Texto-Base da Campanha é dividido em quatro partes. A primeira parte é titulado “Fraternidade e Juventude” e abrange tópicos como: a) o impacto da mudança de época; b)a substituição do papel exercido pelos pais e pela escola pelos meios de comunicação de massa; c) a fragilização dos laços comunitários; d) a banalização e negação da vida; e) o surgimento e influência da cultura midiática; f) as redes sociais e o risco de o jovem querer e necessitar estar sempre conectado; g) as novas gerações querem ser ativas na Igreja; h) as formas associativas dos jovens; i) pluralismo de grupos entre jovens; j) as desigualdades entre os jovens; k) políticas públicas para a juventude etc.

A segunda parte do Texto-Base titulado “Eis-me aqui! Envia-me!” aborda os seguintes itens: a) jovens nas Sagradas Escrituras; b) Maria presença educativa; c) jovens na história da Igreja; d) jovens como seguidores de Cristo; e) o jovem discípulo assume a missão; f) a opção afetiva e efetiva pelos jovens; g) a presença da Igreja no Brasil na pastoral junto aos jovens; e h) o protagonismo e compromisso na sociedade dos jovens.

A terceira parte do Texto-Base oferece indicações para ações transformadoras. Afirma que a Igreja precisa dos jovens e que eles devem receber uma acolhida afetiva e efetiva por parte da Igreja. Insiste que a sociedade precisa nesta mudança de época aproximar-se do mundo jovem. Nesta parte do Texto-Base titulado “Abrir-se ao novo” o texto fala muito sobre “recriar”. Os jovens precisam recriar: a) o sentido da existência e da realidade; b) as relações significativas com Deus; c) as relações afetivas e a vida comunitária; d) as relações de gratuidade para uma postura afetivo-construtiva; e) as relações e o compromisso nesta mudança de época; f) o dinamismo de transformação da sociedade; g) relações de respeito e de integração com o meio ambiente; e h) a razão para além da razão instrumental. Este setor do Texto-Base também enfatiza a importância do encontro pessoal do jovem com Cristo; da catequese de iniciação cristã; do estudo do Catecismo da Igreja Católica; do diálogo entre fé e razão e do diálogo inter-religioso etc.

A terceira parte do Texto-Base também oferece pistas de ação como: a valorização da família como células da sociedade; a formação humana-afetiva dos jovens; o estudo das artes (música, teatro, esportes, dança etc.) pelos jovens; o estudo e análise da conjuntura atual do mundo; a realização de projetos missionários; reconhecer e favorecer o protagonismo juvenil na cultura midiática; a promoção de oficinas sobre como utilizar as novas tecnologias; a participação da Campanha Nacional Contra a Violência; e a participação em manifestações em prol da vida etc.

A quarta parte do Texto-Base é titulado “Gesto Concreto” e afirma que: “A Campanha da Fraternidade se expressa concretamente pela oferta de doações em dinheiro na coleta da solidariedade, realizada no Domingo de Ramos”. O integral das coletas realizadas no Domingo de Ramos deve ser encaminhado à respectiva diocese, que por sua vez, encaminhará 40% do total da coleta para o Fundo Nacional de Solidariedade (FNS): Caixa Econômica Federal, Agência 2220 – Conta Corrente 000.009-0 – CNBB, Brasília, DF. (Enviar comprovante do depósito para CNBB no FAX (61)2103-8303). Segundo o Texto-Base: “Os recursos arrecadados serão destinados preferencialmente a projetos que atendem aos objetos propostos pela CF 2013, como o foco voltado para ações que se revertem em benefícios aos jovens das nossas comunidades”.

Finalmente o Cronograma da CF 2013: No dia 23 de fevereiro de 2013, na Quarta Feira de Cinzas, haverá o lançamento da CF2013 “Fraternidade e Juventude”. A realização da Campanha será de 13 de fevereiro a 24 de março de 2013. No Domingo de Ramos, dia 24 de março de 2013 haverá a Coleta Nacional da Solidariedade (60% para o Fundo Diocesano de Solidariedade e 40% para o Fundo Nacional de Solidariedade). A avaliação da Campanha ocorrerá de abril e junho de 2013: Paroquial (de 8 a 21 de abril), Diocesano (de 22 de abril a 19 de maio), e Regional (de 20 de maio a 16 de junho).

Pe. Dr. Brendan Coleman Mc Donald, Redentorista e Assessor da CNBB Reg. NE1.

Últimos preparativos para o Congresso Internacional “Ecclesia in America”


Faltam poucos dias para o início do Congresso Internacional Ecclesia in America, que se realizará no Vaticano de 9 a 12 de dezembro. Este encontro é promovido pela Pontifícia Comissão para América Latina, os Cavaleiros de Colombo e o Instituto Superior de Estudos Guadalupanos. Reunirá cardeais, bispos, religiosos e leigos de toda a América e do Vaticano.
A finalidade do Congresso é comemorar os 15 anos da Exortação Apostólica Ecclesia in America, do Beato João Paulo II. Trata-se de um dos primeiros grandes eventos do Ano da Fé, inaugurado por Bento XVI em outubro passado e também estará marcado por uma forte presença mariana-guadalupana, pois se realizará sob o signo de Nossa Senhora de Guadalupe, Padroeira da América.
Nossa Senhora de Guadalupe, aliás, está no título do Congresso, que é “Ecclesia in América: nas pegadas da exortação pós-sinodal sob a intercessão de Nossa Senhora de Guadalupe, Estrela da Nova Evangelização e Mãe da Civilização do Amor”.
O Secretário da CAL, Dr. Guzmán Carriquiry, referiu recentemente em declarações à Agência Aciprensa que se trata de uma proposta “muito exigente, porém ao mesmo tempo uma experiência que nos parece muito fascinante e muito oportuna”.
No primeiro dia do evento, 9 de dezembro, na memória litúrgica de São Juan Diego, o Presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina, Card. Marc Ouellet, presidirá a celebração eucarística na Basílica de S. Pedro. Ao final, o Papa Bento XVI irá até a Basílica e pronunciará uma breve saudação.

POR: CNBB/RADIO VATICANO

HISTÓRIA DA CADETRAL DE FORTALEZA

Arquidiocese

Fundada em 1988,A Diocese do Ceará foi criada em 1853 por um decreto do Imperador Dom Pedro II. No ano seguinte, em 6 de junho de 1854, o papa Pio IX expediu a Bula Pro animarum salute, criando a Diocese nos trâmites da Igreja.
As dioceses só podiam ser criadas pelo papa após o decreto imperial. A bula papal só foi oficializada em 1860, depois de sete anos de briga entre Vaticano e o Estado brasileiro. Desmembrada de Olinda, a Diocese era quase todo o território da Província do Ceará.

Civilmente, o Ceará já se havia emancipado da Província de Pernambuco desde 1799. Eclesiasticamente, até 1854, era apenas Vigararia Forânea da Diocese de Olinda.

O território da nova Diocese era quase o mesmo do atual Estado do Ceará. Faltavam apenas as paróquias de Crateús e Independência, ligadas a São Luis do Maranhão.

A população da Diocese, neste tempo, calculava-se em 650.000 habitantes. A população era quase totalmente católica, pois o recenseamento de 1888 registra apenas cento e cinqüenta protestantes e uma dúzia de judeus. A cidade de Fortaleza constava de cerca de 9.000 habitantes.
Antiga Catedral
Nessa época havia na Diocese 34 paróquias e um curato. O número de igrejas era de 78 e o de capelas 11, em toda a província do Ceará.
Antes de ser diocese, o Bispo de Olinda (e antes dele o da Bahia) nomeava Visitadores Eclesiásticos para a Vigararia do Ceará. O primeiro desses visitadores foi Frei Félix Machado Freire (1735) e último foi Padre Antonio Pinto de Mendonça (1844 a 1881).
A Diocese do Ceará, com a criação das Dioceses de Crato e Sobral, foi elevada a Arquidiocese de Fortaleza, em 10 de novembro de 1915, pela Bula “Catholicae Religionis Bonum”do Papa Bento XV. Em 1939, deu-se criação da Diocese de Limoeiro do Norte; em 1960, criação da Diocese de Iguatu e em 1963 foi criada da Diocese de Crateús e em 1971 as Diocese de Itapipoca, Quixadá e Tianguá.

História da Catedral metropolitana de Fortaleza
Em 15 de agosto de 1939, dia de nossa Senhora da Assunção, foi lançada a pedra fundamental da catedral metropolitana de Fortaleza. Entre os fiéis já corria há algum tempo a campanha pró-catedral, uma série de promoções em vistas ao levantamento de fundos para a construção da nova catedral. Iniciava-se um longo período de construção, o que se esperava erigir em quatro anos levou mais de três décadas para ser concluído.
“A nova catedral deve ser obra dos cearenses” conclamou Dom Manoel, então bispo arquidiocesano, motivando todos a empenharem-se na construção da nova Sé que ainda segundo ele deveria ser a “mais digna da fé cristã e do Ceará.” Dentre as muitas empresas concorrentes para assumir a obra venceu a que tinha à frente o engenheiro Francês, que viera para o Brasil, George Le Mounier.
Logo no primeiro ano da construção sobreveio a segunda Guerra Mundial que enfraqueceu a campanha de captação de recursos associada às secas nordestinas e a inflação que consumia vorazmente os recursos adquiridos a muito custo, tornou lento o soerguimento da Catedral.
No ano de 1941 Fortaleza conta com novo bispo, trata-se de Dom Antonio de Almeida Lustosa, fundador da Congregação das Josefinas. Empenhou-se na construção da Igreja-mãe e em carta aos fiéis afirmou que a nova catedral “há de ser, o cenáculo iluminado pelas chamas do Espírito Santo e pela Eucaristia”.
Quinze anos após os inícios dos trabalhos o sacerdote responsável pela construção levou um grupo de peregrinos à França donde assistiu a uma ordenação presbiteral na cripta da Catedral de Lisieux. Quando partilhou com Dom Lustosa sobre a impressão daquele ato que assistira, o bispo resolveu construir uma cripta na Catedral que não constava no projeto inicial de Le Mounier. Com a ajuda dos técnicos decidiram que a cripta seria construída na parte subterrânea do templo mediante escavações.
Nos inícios da década de sessenta já se falava em Fortaleza de uma juventude transviada, baseada no liberalismo e rompimento com a mentalidade tradicional. Dom Lustosa atento ao seu tempo e preocupado com a juventude dedicou os altares da cripta a santos jovens, sendo os da direita aos jovens santos rapazes Tarcísio, Domingos Sávio e Pancrácio e os da esquerda às santas Luzia, Inês e Maria Goreti. Coroando a homenagem aos jovens do Ceará, no altar principal, colocou a imagem de Jesus adolescente.
Em 1963 com a saída de Dom Antonio Lustosa assumiu a cátedra episcopal Dom José de Medeiros Delgado que, um ano depois de sua posse, fez a primeira concelebração eucarística na catedral em construção. Foi um período em que a catedral tomou novo fôlego nas obras.
O tamanho do projeto e as linhas arquitetônicas faziam a imagem da catedral enfileirar-se entre as grandes Igrejas. Registra-se da época a carta do engenheiro pioneiro da obra Le Mounier, já octogenário e residindo na França que “assistindo descuidadamente, um programa de TV sobre as grandes catedrais do mundo, viu desfilar entre as de São Pedro, em Roma, de Notre Dame, de Paris, a de Westmunter, da Inglaterra e a de Colônia, na Alemanha, o perfil da catedral de Fortaleza, ainda em construção.”
O altar do novo templo, uma peça de cinco metros de largura por um e quarenta de altura e pesando catorze toneladas foi doado
Detalhe da coluna direita do altar da Catedral
por Ellio Guggoni, amigo italiano de Dom Delgado. O altar foi dedicado em 1970 e quatro anos depois foi terminada a primeira torre.
O tempo passava e já se entrava para o trigésimo quarto ano das obras. O quarto bispo que leva em frente os trabalhos da construção e conclusão foi Dom Aloísio Lorscheider, então presidente da CNBB, que tomou posse em 1973. Dom Aloísio inaugurou oficialmente a primeira torre fazendo bimbalhar os sinos que há mais de um triênio silenciavam.
Em 1976 Dom Aloísio foi feito cardeal pelo papa Paulo VI, encontrava-seem Roma. Aochegar a Fortaleza foi grande a festa oferecida ao novo cardeal contando “inclusive com um contingente militar perfilado em sua honra”. Com a Palavra, cardeal Lorscheider incentivou todos a continuar ajudando para que se concluísse o quanto antes a Igreja, pois como disse bem humorado “vocês têm um cardeal, mas não têm uma catedral.’
Ainda em plena construção Dom Aloísio sugeriu fazer uma ligação subterrânea que unisse a cripta até o porão existente no final da escadaria da porta frontal, por onde se sobe até os sinos. Esta passagem permitiria aos padres, durante as celebrações festivas não passar por dentro da catedral.
Diversos setores da sociedade foram mobilizados para no dia 25 de dezembro de 1978 tivesse concluída a Catedral. Dom Aloísio já tinha em vista o término da obra por conta do congresso eucarístico que aconteceria em 1980 e contaria com a presença do papa João Paulo II. Deste modo a catedral seria uma homenagem do Ceará a Jesus eucarístico.
Dia 22 de Dezembro de 1978, 39 anos após o início da construção foi inaugurada oficialmente a Catedral metropolitana de Fortaleza, com altura equivalente a um prédio de 12 andares, com capacidade para cinco mil pessoas e em tamanho sendo a terceira maior catedral do Brasil.
A teologia da forma da Catedral
Durante a inauguração da primeira torre Dom Aloísio falou ao numeroso povo de Deus reunido: “Verdade é que nossa função não é construir igrejas, mas construir a Igreja. Fazer com que todos os cristãos participem responsavelmente da tarefa salvadora de cristo Jesus. Mas, nem por isso se exclui, observando a tradição cristã, que nos abstenhamos de construir igrejas que demonstrem, em obras, o nosso amor para com o Pai celeste.
As linhas arquitetônicas da catedral de fortaleza pertencem ao estilo neo-gótico, o mesmo de catedrais como de Colônia na Alemanha. Possuem uma carga de significados profundos nos quais aponta aos fiéis para as realidades celestes.
Ao longe, a catedral destaca-se das demais construções, mostra-se imponente. Suas torres pontiagudas apontam para o céu como mãos que elevam um louvor ao pai. Magnânima parece flutuar, entanto, ao se aproximar contempla-se uma edificação sólida e firmada sobre a rocha, assim como é a Igreja de Cristo.
Em sua estrutura estão contemplados os três níveis da Igreja. A cripta remete à Igreja padecente, ou do purgatório; a Igreja militante encontra seu espaço na nave, local no qual se dá as celebrações do mistério pascal de Cristo; já a Igreja triunfante é lembrada nos vitrais que traz a imagem dos santos e do mistério de Cristo que reina soberano.
O jogo das luzes que adentram a catedral dissipando as trevas lembra ao homem do combate que é travado entre luzes e trevas, entre o homem novo e homem velho. É um prédio que por seu estilo revela imponência ao observar-se de longe e simplicidade ao ser contemplado por dentro.
A Catedral de Fortaleza ao lado do presbitério possui a capela do Santíssimo sacramento e nas laterais um espaço dedicado à são José, patrono do Ceará e a Nossa Senhora da Assunção, padroeira de Fortaleza.
Os vitrais que embelezam a catedral, de origem Suíça, foram desenhados por Dom Antonio Lustosa . Devido ao longo período guardados enquanto era erigido o templo tiveram que ser restaurados o que custou uma despesa maior do que a realizada para aquisição dos mesmos.
Ao todo são 115 peças formando um conjunto harmonioso cravados nas sólidas e altaneiras paredes da Sé que transluzem os raios do sol iluminando o interior da Igreja Mãe lembrando de Cristo, o Sol que ilumina sua esposa, a Igreja.
Os vitrais estão agrupados em lances que apontam para a Igreja gloriosa e contam silenciosamente a história da salvação desde o gênesis até a consumação dos tempos, donde Cristo virá triunfante e glorioso. Podemos encontrar os grupos dos profetas, dos juízes, das mulheres da Bíblia, além dos apóstolos, mártires, doutores e outros grandes santos da Igreja e ainda cenas dos evangelhos que revelam o mistério de Cristo.
As reformas da catedral
Um prédio de proporções grandiosas como a catedral de Fortaleza necessita estar constantemente em manutenção. Por volta de 2004 aIgreja Mãe teve seu projeto de som renovado, isto para melhorar a acústica no interior do templo e inibir a reverberação. Profissionais da UNICAMP foram os responsáveis pelo projeto.
A maior reforma pela qual passou a catedral iniciou-se no final de 2006 e durante estes meses a imponente Sé teve todo seu emadeiramento do telhado trocado. O presbitério adquiriu novas peças como uma cruz feito sob encomenda por artista plástico italiano.
Esteve à frente do ousado plano de reforma o seu pároco Clairton Alexandrino, que relembrando os tempos de construção da Catedral não se cansou em estar à frente de diversas campanhas com intuito de angariar recursos para embelezar ainda mais o interior da Igreja Mãe das igrejas do Ceará.

DATAS IMPORTANTES

  • 1607 – Chegada dos primeiros missionários jesuítas. Padre Francisco Pinto e padre Luís Figueira.
  • 1608 – Fundação do primeiro aldeamento missionário da Ibiapaba – Aldeia de São Lourenço e martírio do padre Francisco Pinto.
  • 1611 – Chegada do padre Baltazar João Correia junto com a expedição de Martim Soares Moreno.
  • 1649 – Estabelecimento de uma missão protestante, aos cuidados do pastor inglês Tomás Kemp durante a segunda tentativa de ocupação holandesa.
  • 1654 – Martírio do pastor Tomás Kemp na revolta indígena que sucedeu a expulsão da Companhia das Índias Ocidentais do Recife.
  • 1656 – Os jesuítas Pedro Pedrosa e Antonio Ribeiro retomam a evangelização dos índios do Ceará. Seu principal objetivo era apagar qualquer traço da influência protestante entre os índios.
  • 1660 – O padre Antônio Vieira visita pessoalmente a Ibiapaba.
  • 1758 – A Companhia de Jesus é expulsa do Brasil por ordem do Marquês de Pombal. As aldeias jesuítas do Ceará, entre elas os atuais bairros de Parangaba, Messejana, e as cidades de Caucaia, Viçosa, Baturité entre outras, passam à categoria de Vilas Reais.
  • 1853 – Lei Geral nº 693 autoriza o governo imperial a solicitar da Santa Sé a criação do bispado do Ceará, desmembrado do bispado de Olinda.
  • 1859 – O padre Luís Antônio dos Santos é nomeado primeiro bispo do Ceará.
  • 1861 – Instalação do bispado e posse do primeiro bispo.
  • 1864 – Fundação do Seminário da Prainha.
  • 1870 – A Igreja do Ceará participa, pela primeira vez, de um Concílio Ecumênico, na pessoa de dom Luís Antonio dos Santos (Concílio Vaticano I)
  • 1881 – Chegada do missionário presbiteriano, Rev. De Lacy Wordlaw.
  • 1889 – Acontecem os primeiros fenômenos religiosos em Juazeiro envolvendo o padre Cícero Romão Batista.
  • 1914 – Elevação da diocese do Ceará à categoria de arquidiocese. Criação da diocese do Crato.
  • 1915 – Criação da diocese de Sobral.
  • 1938 – Criação da diocese de Limoeiro.
  • 1961 – Criação da diocese de Iguatu.
  • 1964 – Criação da diocese de Crateús.
  • 1971 – Criação das dioceses de Quixadá, Tianguá e Itapipoca.
  • 1973 – Nomeação de dom Aloísio Lorscheider para arcebispo de Fortaleza.
  • 1976 – Dom Aloísio é criado e publicado cardeal pelo papa Paulo VI
  • 1978 – Dom Aloísio é o primeiro bispo do Ceará a participar de dois conclaves.
  • 1980 – O papa João Paulo II visita o Ceará.
  • 1995 – Dom Aloísio pede transferência para a arquidiocese de Aparecida por motivos de saúde.
  • 1996 – Dom Cláudio Hummes é nomeado arcebispo de Fortaleza.
  • 1998 – Dom Cláudio é transferido para a arquidiocese de São Paulo.
  • 1999 – Nomeação de dom José Antônio.
FONTE: http://semanamissionariafortaleza.org/a-diocese/

“O que é crer. O que é Fé.”


Após iniciarmos o Ano da Fé, nos voltamos para o Catecismo da Igreja Católica, que ora completa seus 20 anos, como instrumento fundamental para que os fiéis tenham a orientação segura sobre os conteúdos da fé: “Esta obra, verdadeiro fruto do Concílio Vaticano II, foi desejada pelo Sínodo Extraordinário dos Bispos de 1985 como instrumento ao serviço da catequese[4] e foi realizado com a colaboração de todo o episcopado da Igreja Católica. E uma Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos foi convocada por mim, precisamente para o mês de Outubro de 2012, tendo por tema ‘A nova evangelização para a transmissão da fé cristã’. Será uma ocasião propícia para introduzir o complexo eclesial inteiro num tempo de particular reflexão e redescoberta da fé.”(Porta Fidei – Bento XVI)

E o mesmo Catecismo deverá ser redescoberto no contexto das comemorações do Ano da Fé e da Nova Evangelização como baliza segura de: em quem se crê e o que se crê.

O Catecismo da Igreja Católica, não só apresenta uma série de doutrinas nas quais o fiel católico deve crer, mas desenvolve um verdadeiro roteiro da vida de fé. Se olharmos para o mesmo índice geral do Catecismo veremos que teremos quatro partes que contemplam: A Profissão de Fé, A Celebração do Mistério Cristão, A Vida em Cristo e a Oração Cristã. Penetrando mais profundamente em cada uma destas quatro partes, encontramos o itinerário de vida cristã, que parte da Fé como dom de Deus e resposta humana no encontro com Jesus Cristo. O Creio, símbolo da fé, contém os conteúdos fundamentais da Revelação Divina que se torna completa na pessoa de Jesus Cristo, o Filho de Deus feito Homens pelos homens; Sua obra salvadora realizada e doada pelo Espírito Santo à humanidade.

Em seguida a Iniciação à vida em Cristo se realiza na Celebração (culto conjunto divino-humano) do Mistério de Cristo na Igreja e nos seus Sacramentos. O dom da Graça divina é oferecido na Igreja pela ação do Espírito de Deus – Espírito de Amor – derramado por Cristo nos corações humanos que a Ele aderem na Fé. Batismo, Confirmação, Eucaristia realizam o dom da iniciação à vida divina, que se desenvolve na vivência em Cristo. Penitência e Unção dos Enfermos curam os discípulos que após ter recebido a graça divina que perdoa os pecados e mergulhado na vida de Deus, tornam a ser feridos pelo mal que praticam. Ordem e Matrimônio que colocam a vida humana na bênção e fecundidade da missão do Reino de Deus: construção da família humana como família de Deus.

“Justificados em nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito de nosso Deus” (1Cor 5,11), “santificados… chamados a ser santos”, os cristãos se tornaram “templo do Espírito Santo” (1Cor 6,19). Esse “Espírito do Filho” os ensina a orar ao Pai e, tendo-se tornado vida deles, os faz agir para carregarem em si “os frutos do Espírito” pela caridade operante. Curando as feridas do pecado, o Espírito Santo nos “renova pela transformação espiritual de nossa mente”, ele nos ilumina e fortifica para vivermos como “filhos da luz” (Ef 5,8), na “bondade, justiça e verdade” em todas as coisas (Ef 5,9).” (CIC 1695). Assim o Catecismo em sua terceira parte apresenta A Vida em Cristo: vida no Espírito de Cristo, no Amor de Deus plenamente revelado. Nele e para Ele é que a pessoa humana foi criada como “imagem e semelhança de Deus”. Os ensinamentos de Jesus levam à plenitude a comunicação da Palavra de Deus e o sentido mais pleno de todos os mandamentos divinos. Nesta perspectiva se olham os chamados Dez mandamentos.

Finalmente coroa o conteúdo do Catecismo da Igreja Católica sua quarta parte: A Oração na Vida Cristã. Ela exprime toda a intimidade que a vida em Cristo tem com Deus. Jesus veio do seio da Trindade e a ela nos conduz. “A oração é a relação viva dos filhos de Deus com seu Pai infinitamente bom, com seu Filho, Jesus Cristo, e com o Espírito Santo. A graça do Reino é a “união de toda a Santíssima Trindade com o espírito pleno”. A vida de oração desta forma consiste em estar habitualmente na presença do Deus três vezes Santo e em comunhão com Ele. Esta comunhão de vida é sempre possível, porque, pelo Batismo, nos tomamos um mesmo ser com Cristo. A oração é cristã enquanto comunhão com Cristo e cresce na Igreja que é seu Corpo. Suas dimensões são as do Amor de Cristo.” (CIC 2565)

Para colocar mais ao alcance de muitos a riqueza da Fé Cristã que o Catecismo da Igreja Católica procura comunicar, preparou-se também um Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, em forma de perguntas e respostas, o que muito ajudará diante de tantos questionamentos que se faz à doutrina e à posição da Igreja diante das realidades da vida humana.

E finalmente, para atender mais ainda à necessidade de comunicar o dom e o conteúdo da Fé aos jovens em sua busca, em seus anseios e angústias diante dos grandes problemas da vida, oferecendo as respostas que Deus nos dá em Cristo, fez-se o chamado YouCat – Catecismo para os Jovens ( que existe também na forma digital pela Internet).

Poderemos aproveitar para conhecer melhor a Cristo e a Sua Igreja através destes instrumentos. Eles não substituem a própria convivência humana, os relacionamentos vividos em Cristo, o testemunho cristão autêntico, que poderão contagiar com a alegria da vida divina a muitos que buscam com sinceridade o significado da vida.

O Catecismo da Igreja Católica poderá ser um bom instrumento de conhecimento ou aprofundamento da Fé. Vale a pena experimentá-lo.

+ José Antonio Aparecido Tosi Marques

Arcebispo Metropolitano de Fortaleza

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Na manhã do último sábado, dia 17, lideranças jovens da Arquidiocese de Fortaleza participaram do encontro Caminhando para a Jornada Mundial da Juventude, um dia para refletir sobre a atual situação da juventude em nosso país e também sobre os efeitos da Jornada Mundial da Juventude e da Semana Missionária na vida Igreja local.
Utilizando-se do Hangout (ferramenta de videoconferência) os participantes puderam contar com a presença de Pe. Jefferson Gonçalves, diretor executivo do Setor Pré-jornada, direto do Rio de Janeiro e com Pe. Dênys Lima, Referencial da Semana Missionária no Regional Nordeste 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que na ocasião se encontrava em Roma.
O encontro também foi prestigiado pelo Bispo Auxiliar da Arquidiocese Dom José Vasconcelos que incentivou os jovens prosseguiram no caminho da missão. “A inspiração da Semana Missionária é a abertura para outras aconteçam nos anos subsequentes”, disse. O pastor ainda pediu aos líderes a unidade. “Cada expressão eclesial tem muito a ensinar umas às outras, por isso a importância de cultivar a unidade na diversidade”, advertiu.

Do site www.http://semanamissionariafortaleza

A ESPOSA DE JESUS

Por que a descoberta de um papiro do século IV que sugere a existência de uma mulher de Cristo pode revolucionar o estudo dos primeiros séculos do cristianismo

Rodrigo Cardoso
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CASAL?
O possível relacionamento entre Jesus e Maria Madalena
volta à baila com a revelação desse novo documento
Jesus Cristo nunca esteve tão próximo do altar dos homens quanto agora. Na terça-feira 18 uma respeitada historiadora da Universidade de Harvard, Karen L. King, especialista em cristianismo antigo, apresentou em um congresso no Vaticano, sede do catolicismo mundial, aquele que seria o texto mais antigo a mencionar que o filho de Deus teve uma esposa. Chamado de Evangelho da Esposa de Jesus, um fragmento de papiro do século IV escrito em copta – um idioma egípcio – traz um diálogo entre Cristo e seus discípulos no qual se lê: “Jesus disse a eles: ‘Minha esposa...’. Outros textos apócrifos (aqueles não legitimados pela Igreja Católica) sobre o cristianismo, como o evangelho de Filipe, do século III, já davam a entender que havia uma relação conjugal entre Jesus e Maria Madalena. Em nenhum deles, porém, Cristo fala em primeira pessoa sobre a sua consorte, como ocorre no Evangelho da Esposa de Jesus, que mede oito centímetros de comprimento por quatro de altura.

No documento nota-se, ainda, um diálogo de Cristo sobre o seu discipulado e o papel de sua esposa entre os homens que o seguiam (leia no alto da página). Na primeira linha do papiro, lê-se “Não (para) mim. Minha mãe me deu vi(da...)” e, na terceira, “negar. Maria é digna de... (ou Maria não é digna de...)”. Como a referência à mãe de Jesus é feita na primeira sentença, o arqueólogo Rodrigo Pereira da Silva, professor do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), afirma que é mais provável que a Maria mencionada no texto seja Maria Madalena e não Maria mãe de Jesus. Silva, que fez pós-doutorado em arqueologia na norte-americana Andrews University, concorda, porém, com a professora Karen, de Harvard. Para ela, o papiro não é prova de que Jesus se casou.
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O documento, segundo ela, seria parte de um livro escrito no século II, ou seja, uma fonte muito tardia em relação aos dias de Cristo na Terra. Corrobora também para a dúvida o fato de, naquele período, uma comunidade de cristãos dissidentes – a maioria de Alexandria, no Egito – ter criado um movimento chamado gnosticismo, marcado pela produção de textos nos quais a figura do Jesus preconizada pelo Novo Testamento pode ter sido modificada para tornar o cristianismo mais palatável ao povo pagão alexandrino. Esse novo Jesus que nascera ali, entre outros traços, não sentia dor nem sofrimento. Ideias como a ressurreição, encarnação e morte expiatória na cruz, que não eram bem-vistas diante dos olhos do mundo grego de Alexandria, ficaram de fora dos textos apócrifos gnósticos, como os evangelhos de Tomé, Judas e Filipe. Também surgiu a necessidade de se criar uma esposa para Cristo para, como pregava o gnosticismo, confirmar a teoria de que espíritos evoluídos estavam sempre em casais e nunca sozinhos.

O evangelho de Filipe, por exemplo, traz fragmentos nos quais se menciona o episódio de um beijo de Jesus em Maria Madalena. “Nessa região e naquela época se discutia muito se era apropriado ao cristão se casar. Por essas evidências, supõe-se que o Evangelho da Esposa de Jesus seja um documento surgido em um ambiente de gnosticismo”, diz o arqueólogo Jorge Fabbro, da pós-graduação em arqueologia do Oriente Médio Antigo da Universidade de Santo Amaro (Unisa). O fragmento apresentado no Vaticano, portanto, estaria se referindo a um outro Cristo, uma divindade maquiada, e não àquele presente no Novo Testamento. Mas qual é o verdadeiro? Não será esse papiro que irá responder. Mas ele lança lenha na fogueira por ser mais um texto, diferente dos que já se tem conhecimento, que aponta para uma possível relação entre Maria Madalena e Jesus.
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Fogueira que também é alimentada por textos reconhecidos como canônicos pelo cristianismo ortodoxo, como o Evangelho de Marcos, o primeiro entre aqueles aceitos pela Igreja a ser escrito. “De repente, Maria Madalena aparece nele como uma figura do círculo mais íntimo de Jesus, sem nunca sequer ter sido mencionada”, afirma Fabbro. “Ela surge na morte de Jesus, ao lado da mãe e da irmã dele, o vê nu, ajuda a ungi-lo e, depois, não mais recebe citações. Isso sugere um elevado grau de intimidade dela com Jesus, maior do que, à primeira vista, transparece nos evangelhos.” O casamento entre os cristãos do século I, porém, era uma possibilidade abençoada. Paulo, por exemplo, cujos textos fazem parte do cânone oficial, menciona líderes da Igreja casados, como Pedro, os apóstolos e os irmãos de Cristo.

Na Israel do século I, nobre não era apenas a pessoa solteira e celibatária. Assim também seria aquela que, mesmo casada, tivesse a coragem de deixar a família em segundo plano para servir ao trabalho de Deus. “Se Jesus fosse casado, seria uma vantagem para ele. Não haveria motivos para os evangelhos bíblicos negarem o fato”, diz o arqueó­logo Silva. Para ele, o Evangelho da Esposa de Jesus é mais um que reforça o fato de que o Cristo histórico não foi casado, uma vez que, se tivesse vivido uma relação marital, a discussão ou menção sobre isso apareceria em livros mais antigos do que os do século II. “Por outro lado, nota-se um silêncio absoluto no século I sobre o fato e uma grande efervescência sobre ele no século II. E foi assim porque o Jesus casado é uma característica de um Cristo construído pela teologia gnóstica.”

Inferir, então, um relacionamento marital entre Jesus Cristo e Maria Madalena é pura especulação. Fabbro, o arqueólogo da Unisa, lembra que alguns cristãos gnósticos acreditavam que, para estarem próximos do que há de melhor no universo, era preciso rejeitar todos os prazeres relacionados ao corpo, como o contato físico por meio do sexo e a glutonaria. “Pregadores itinerantes dessa comunidade viajavam sempre acompanhados do que chamavam de esposa”, diz ele. “Tratava-se de uma espécie de irmã com quem tinham intimidade de convívio, apoio mútuo, mas com celibato.” O Evangelho da Esposa de Jesus, então, pode ser uma manifestação desse costume. Análises químicas da tinta usada no papiro serão feitas para tentar precisar o tempo em que ele foi escrito. E mais capítulos dessa – fascinante para muitos e improvável para outros – história poderão vir à tona.

Fotos: Karen L. King/Harvard Divinity School/AFP PHOTO; Rose Lincoln/Harvard Staff Photographer