terça-feira, 23 de julho de 2013

Papa no Brasil

Está na boca dos teólogos e na percepção dos fiéis: Francisco é um homem que fala por gestos. E seu comportamento no primeiro dia de visita ao Brasil só reafirma o quão franciscano esse jesuíta tem se mostrado.
 
Ainda no domingo, 21, na partida do aeroporto de Roma, não delegou sua valise a assessor algum. Levou a mala preta na mão esquerda. Durante o voo, Francisco saiu da primeira classe e foi conversar com os jornalistas acomodados na classe econômica.

Ao chegar ao Rio de Janeiro, no meio da tarde, embarcou em um Fiat Idea - carro simples e sem blindagem, cujo preço varia de R$ 43 mil a R$ 52 mil. Pouco após o início do trajeto do Galeão até o centro da cidade, a multidão conseguiu cercar o carro. Os seguranças não conseguiram deter os braços dos fiéis que se esticavam na esperança de tocar o pontífice. A cena de vulnerabilidade não assustou o papa. Durante todo o itinerário, ele manteve o vidro completamente aberto. Tão aberto que uma mãe conseguiu fazer o filho chegar às mãos de Francisco, que não hesitou em puxá-lo para o carro e beijá-lo.

Em seu discurso no Palácio Guanabara, Francisco parafraseou trecho do Atos dos Apóstolos para lembrar a opção franciscana pela vida sem ostentação. Ao dizer “não tenho ouro nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi dado: Jesus Cristo!”, Francisco assume a fala daquele que é considerado o primeiro papa: São Pedro.
 

Quis Deus na sua amorosa providência que a primeira viagem internacional do meu pontificado me consentisse voltar à amada América Latina, precisamente ao Brasil, nação que se gloria de seus sólidos laços com a Sé Apostólica e dos profundos sentimentos de fé e amizade que sempre a uniram de modo singular ao sucessor de Pedro”
 
Aprendi que, para ter acesso ao povo brasileiro, é preciso ingressar pelo portal do seu imenso coração; por isso permitam-me que nesta hora eu possa bater delicadamente a esta porta. Peço licença para entrar e transcorrer esta semana com vocês. Não tenho ouro nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi dado: Jesus Cristo!” 
 
 
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Francisco ´bate à porta´ dos corações brasileiros
 
Francisco cobrou no seu discurso educação e meios materiais para que os jovens possam se desenvolverRio de Janeiro. Em um português com leve sotaque e estilo coloquial, o papa Francisco pediu ontem que jovens católicos do mundo evangelizem as nações, em seu primeiro discurso no Brasil. No País, como no restante da América Latina, a Igreja Católica vem perdendo fiéis há três décadas para os evangélicos e para o laicismo.
O papa quebrou o protoloco durante seu trajeto pelas ruas do Rio de Janeiro, quando chegou a abrir completamente o vidro do carro que o conduzia, recebeu uma criança das mãos de seus país e a beijou, antes de entregá-la FOTO: REUTERS

O papa preside de hoje a 28 de julho a Jornada Mundial da Juventude, que espera receber 2,5 milhões de pessoas. Esta é a primeira viagem internacional do argentino Jorge Mario Bergoglio desde que foi indicado o sucessor de Bento XVI, em março.

"Eu aprendi que, para termos acesso ao povo brasileiro, é preciso entrar em seu grande coração. Então, permitam-me que nesta hora eu possa bater delicadamente a esta porta dos corações dos brasileiros", disse o papa, de 76 anos.

A fala de Francisco se sucedeu à da presidente Dilma Rousseff (PT) no Palácio Guanabara, sede do governo do Rio de Janeiro, para exaltar a importância dos jovens, a quem chamou de "menina dos olhos". "Cristo bota fé nos jovens e confia-lhes o futuro e sua própria casa. E também os jovens botam fé em cristo", complementou o pontífice.

O papa também cobrou educação e meios materiais para que os jovens possam se desenvolver, e deixou claro que sua viagem ao País ganhará um forte caráter político.

A presidente Dilma reconheceu no papa "um líder religioso sensível aos anseios de nossos povos por justiça social, por oportunidade para todos e dignidade cidadã. Lutamos contra um inimigo comum, a desigualdade, em todas as suas formas".

No discurso, ele reforçou o estilo de recusa a ostentações ao dizer que não trazia ouro, nem prata, mas apenas Jesus Cristo. "Não tenho ouro nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi dado: Jesus Cristo", disse, sob aplausos dos presentes à cerimônia. "Venho em Seu nome, para alimentar a chama de amor fraterno que arde em cada coração. Desejo que chegue a todos e a cada um a minha saudação: a paz de Cristo esteja com vocês".

Tumulto
Na chegada, fez questão de entrar em contato com os fiéis. Durante o trajeto pelo Centro foi saudado por uma multidão, primeiro indo do Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim à Catedral Metropolitana em um carro de passeio e, depois, deixando a igreja rumo ao III Comando Aéreo Regional (Comar) em um papamóvel aberto.

No III Comar, o papa embarcou em um helicóptero militar que o levou para o campo do Fluminense, ao lado do Palácio Guanabara, onde se reuniu com autoridades. O papa havia desembarcado há pouco mais de meia hora quando uma falha no esquema de segurança permitiu que fiéis se aproximassem do carro e conseguissem tocá-lo, para desespero dos seguranças.

Em vez de seguir pelo meio da Avenida Presidente Vargas, o comboio pegou a pista do canto. O automóvel onde o papa seguia, de vidros abertos, ficou preso entre os ônibus e centenas de fiéis. "Foi um erro de pista", disse o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral da Presidência).

Carvalho disse que ainda não se sabe quem foi o responsável pelo erro, mas disse ter sido um "alívio" não ter ocorrido nada. Responsáveis pela segurança por parte da Polícia Federal afirmavam que o erro teria sido de batedores da Polícia Rodoviária Federal. A PRF afirmou que cumpriu o que foi determinado pela organização geral do evento.

Emoção marca a chegada ao Rio
Rio de Janeiro. Foram horas de espera, de busca pelo melhor lugar, de vigília em pé e de ansiedade, mas eles fariam tudo isso de novo. Os milhares de brasileiros e estrangeiros que lotaram as ruas do Centro do Rio para ver o papa Francisco, o primeiro sumo pontífice da América Latina, comemoraram a rápida passagem do papamóvel pela região e se emocionaram mesmo com os poucos segundos de aceno dele.

Católicos aguardaram fervorosamente a passagem do papa Francisco perto da Catedral, no Centro do Rio de Janeiro FOTO: REUTERS
"Foi muito emocionante. Vimos o papa João Paulo II, em 1997. A energia é muito boa. É bom para dar uma acalmada nos ânimos da cidade. Trabalho aqui perto e hoje o que a gente vê aqui é um clima diferente", disse a advogada Ângida Maria, de 60 anos, referindo-se aos protestos de junho na avenida Rio Branco.

A família Barbosa, de Manaus, viajou por mais de 2,8 mil quilômetros após economizar com afinco. "Vendemos pizza, pipoca, montamos barraca de lanches, tudo para arrecadar dinheiro para a viagem", afirmou a filha Taylla Larissa, de 15 anos. Um esforço que, para eles, valeu a pena.

Os estrangeiros também eram numerosos. A maioria era latino-americana. Enrolado na bandeira do Peru, o fotógrafo Richard Vargas, de 33 anos, ressaltou que o principal da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), de acordo com ele, é o convívio com outras culturas. "É muito gostoso encontrar estrangeiros, são outras histórias, outras vidas, todo jovem do interior merece vivenciar isso para saber que o mundo é grande".

Jornada

Milhares de jovens que estão a caminho da Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro fizeram ontem uma pausa na cidade de Aparecida, no interior de São Paulo. Muitos aproveitaram para fazer preces e agradecer a Nossa Senhora pela oportunidade do encontro.

Um grupo de 250 jovens de Brasília lotou seis ônibus e desembarcou no Santuário de Aparecida na manhã de ontem para um dia de adoração da Santa Padroeira do Brasil.



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