Com a chegada de um novo pontífice, dá-se muita atenção
aos sinais de evolução ou de mudança em todos os âmbitos sensíveis do
catolicismo. O do lugar das mulheres na Igreja é um dos temas importantes. Tendo
vivido menos do que o antecessor em seminários e em escritórios romanos, o
Papa Francisco
faz nascer
esperanças naqueles homens e mulheres que estão finalmente à espera de
sinais.
A reportagem é de Philippe
Clanché, publicada no blog Cathoreve, 25-04-2013. A
tradução é de Moisés Sbardelotto.
A partir da Semana Santa, eles não ficaram decepcionados ao
ver que, assim como quando ele era arcebispo de Buenos
Aires, Francisco lavou os pés de duas mulheres durante a missa de
Quinta-feira Santa. E isso apesar de certas pressões.
E eis que o coordenador do seu grupo de oito cardeais conselheiros em vista
da reforma da Cúria, Oscar Rodriguez Maradiaga, abriu
uma porta, em uma entrevista ao Sunday Times, publicada no dia
21 de abril. O cardeal hondurenho aprova “a ideia de nomear mulheres para
postos-chave daSanta Sé“. Nossa! Conta-se que João
XXIII, com um leve traço irônico, disse um dia no Vaticano:
“Aqui faltam mulheres”. Será que ele finalmente foi ouvido?
Esperava-se, então, uma reação oficial da Santa Sé a essa
frase lançada para testar o clima atual… E chegou, muito rapidamente, do
padre Lombardi, diretor da Sala de Imprensa.
“É uma etapa natural. Orientamo-nos para um número maior de mulheres nomeadas
para papéis-chave para os quais estejam qualificadas”.
Duas frases curtas que merecem uma exegese. Falar de uma “etapa” pode fazer
pensar que a ideia se insere em um programa mais longo de promoção
da mulher no topo da hierarquia. Acrescentar o adjetivo “natural” é muito
intrigante. Por que foi preciso esperar até hoje para imaginar uma evolução
“natural”? Lembremos que, de maneira “natural”, as mulheres representam cerca de
metade da humanidade. E que, ao menos no Ocidente, elas estão claramente em
maioria nas igrejas.
Quanto à palavra “maior”, ela levaria a pensar que, às vezes, encontram-se
saias ao lado das túnicas nos escritórios da Santa Sé. Resta
provar que elas não pertencem só às pessoas encarregadas da limpeza, da
restauração ou das traduções, empregos
certamente nobres, mas, francamente, não decisionais.
Evidentemente, estando o padre Lombardi formado para a
prudência, aparece uma grande nota bemol na sua proposta. As mulheres poderiam
ser confiadas aos cargos “para os quais estejam qualificadas”. Não vemos a hora
de conhecer os perfis dos postos emitidos pela Direção de Recursos
Humanos do Vaticano!
Se é questão de diplomas de teologia, se encontrarão mulheres – quer sejam
religiosas, celibatárias, mães de família. Ao contrário, se os postos de chefia
de serviço continuarem reservados a bispos ordenados ou que podem ser ordenados
para a ocasião, então algo não vai bem.
Os presidentes das Congregações hoje são sistematicamente cardeais. Para
responder ao desejo dos nossos eminentes militantes da promoção feminina,
bastaria rever o Código de Direito Canônico de 1983, que havia
removido a antiga possibilidade de nomear um leigo entre os sábios
do Sacro Colégio e de abrir o seu acesso às
mulheres (1).
Uma ideia defendida particularmente pela teóloga Anne Soupa, cofundadora
do Comité de la Jupe e autora de Dieu aime-t-il les
femmes (Ed. Tallandier). Ela recordou isso no dia 23 de abril, por
ocasião de um debate em Paris com Dom Jean-Luc Brunin, bispo
de Le Havre e presidente do Conselho Família e
Sociedade do episcopado francês.
As autoridades eclesiásticas até gostariam de confiar a mulheres cargos
importantes na Santa Sé, mas realmente não podem por enquanto.
Portanto, é hora de passar das declarações de intenção – encorajadoras – para as
reformas estruturais que permitiriam essa realidade.
Em um romance precursor Vatican 2035, publicado em
2005 pelas edições Plon, Pietro de Paoli, pseudônimo
de Christine Pedotti, já previa tais reformas. No livro,
liam-se as aventuras de uma leiga celibatária que ocupava o prestigioso cargo de
teóloga da Casa Pontifícia. Ela se tornaria, com outras duas,
“cardinalessa” da Santa Sé.
Visto que foi escrito…
Nota:
1 – “Os Cardeais a promover são escolhidos livremente pelo
Romano Pontífice, pertencentes pelo menos à ordem do presbiterado, e que se
distingam notavelmente pela doutrina, costumes, piedade e prudente resolução dos
problemas; os que ainda não forem Bispos, devem receber a consagração episcopal”
(cânone 351).
Quarta, 01 de maio de 2013
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