sábado, 4 de maio de 2013

Com a chegada de um novo pontífice, dá-se muita atenção aos sinais de evolução ou de mudança em todos os âmbitos sensíveis do catolicismo. O do lugar das mulheres na Igreja é um dos temas importantes. Tendo vivido menos do que o antecessor em seminários e em escritórios romanos, o Papa Francisco faz nascer esperanças naqueles homens e mulheres que estão finalmente à espera de sinais.
 A reportagem é de Philippe Clanché, publicada no blog Cathoreve, 25-04-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A partir da Semana Santa, eles não ficaram decepcionados ao ver que, assim como quando ele era arcebispo de Buenos AiresFrancisco lavou os pés de duas mulheres durante a missa de Quinta-feira Santa. E isso apesar de certas pressões.
E eis que o coordenador do seu grupo de oito cardeais conselheiros em vista da reforma da Cúria, Oscar Rodriguez Maradiaga, abriu uma porta, em uma entrevista ao Sunday Times, publicada no dia 21 de abril. O cardeal hondurenho aprova “a ideia de nomear mulheres para postos-chave daSanta Sé“. Nossa! Conta-se que João XXIII, com um leve traço irônico, disse um dia no Vaticano: “Aqui faltam mulheres”. Será que ele finalmente foi ouvido?
Esperava-se, então, uma reação oficial da Santa Sé a essa frase lançada para testar o clima atual… E chegou, muito rapidamente, do padre Lombardi, diretor da Sala de Imprensa. “É uma etapa natural. Orientamo-nos para um número maior de mulheres nomeadas para papéis-chave para os quais estejam qualificadas”.
Duas frases curtas que merecem uma exegese. Falar de uma “etapa” pode fazer pensar que a ideia se insere em um programa mais longo de promoção da mulher no topo da hierarquia. Acrescentar o adjetivo “natural” é muito intrigante. Por que foi preciso esperar até hoje para imaginar uma evolução “natural”? Lembremos que, de maneira “natural”, as mulheres representam cerca de metade da humanidade. E que, ao menos no Ocidente, elas estão claramente em maioria nas igrejas.
Quanto à palavra “maior”, ela levaria a pensar que, às vezes, encontram-se saias ao lado das túnicas nos escritórios da Santa Sé. Resta provar que elas não pertencem só às pessoas encarregadas da limpeza, da restauração ou das traduções, empregos certamente nobres, mas, francamente, não decisionais.
Evidentemente, estando o padre Lombardi formado para a prudência, aparece uma grande nota bemol na sua proposta. As mulheres poderiam ser confiadas aos cargos “para os quais estejam qualificadas”. Não vemos a hora de conhecer os perfis dos postos emitidos pela Direção de Recursos Humanos do Vaticano!
Se é questão de diplomas de teologia, se encontrarão mulheres – quer sejam religiosas, celibatárias, mães de família. Ao contrário, se os postos de chefia de serviço continuarem reservados a bispos ordenados ou que podem ser ordenados para a ocasião, então algo não vai bem.
Os presidentes das Congregações hoje são sistematicamente cardeais. Para responder ao desejo dos nossos eminentes militantes da promoção feminina, bastaria rever o Código de Direito Canônico de 1983, que havia removido a antiga possibilidade de nomear um leigo entre os sábios do Sacro Colégio e de abrir o seu acesso às mulheres (1).
Uma ideia defendida particularmente pela teóloga Anne Soupa, cofundadora do Comité de la Jupe e autora de Dieu aime-t-il les femmes (Ed. Tallandier). Ela recordou isso no dia 23 de abril, por ocasião de um debate em Paris com Dom Jean-Luc Brunin, bispo de Le Havre e presidente do Conselho Família e Sociedade do episcopado francês.
As autoridades eclesiásticas até gostariam de confiar a mulheres cargos importantes na Santa Sé, mas realmente não podem por enquanto. Portanto, é hora de passar das declarações de intenção – encorajadoras – para as reformas estruturais que permitiriam essa realidade.
Em um romance precursor Vatican 2035, publicado em 2005 pelas edições Plon, Pietro de Paoli, pseudônimo de Christine Pedotti, já previa tais reformas. No livro, liam-se as aventuras de uma leiga celibatária que ocupava o prestigioso cargo de teóloga da Casa Pontifícia. Ela se tornaria, com outras duas, “cardinalessa” da Santa Sé.
Visto que foi escrito…
Nota:
1 – “Os Cardeais a promover são escolhidos livremente pelo Romano Pontífice, pertencentes pelo menos à ordem do presbiterado, e que se distingam notavelmente pela doutrina, costumes, piedade e prudente resolução dos problemas; os que ainda não forem Bispos, devem receber a consagração episcopal” (cânone 351).
Philipe Clanchet
Quarta, 01 de maio de 2013
 

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