Muito se tem falado nos últimos
anos a respeito da dimensão missionária da Igreja, aparecendo em seus
documentos não só o desenvolvimento de novas nomenclaturas como também
motivações para que a Igreja assuma esta dimensão.
O Decreto Conciliar Ad Gentes (7/12/65)-
sobre a atividade missionária da Igreja deu uma grande reviravolta na
concepção da responsabilidade da missão quando afirmou: “A Igreja
peregrina é, por sua natureza, (o grifo é meu) missionária, visto que
tem sua origem, segundo o desígnio de Deus Pai, na “missão” do Filho e
do Espírito Santo” (AG nº 2). Aqui ficou colocado um novo parâmetro, um
novo paradigma para se saber o que é a missão e o seu fundamento, ou
seja, em primeiro lugar faz parte da natureza da Igreja – isto nos leva a
afirmar que a Igreja ou é missionária ou não é Igreja. Ressalto que o
Doc. de Aparecida utiliza um novo referencial para dizer isto quando
afirma uma “Igreja em estado permanente de missão”, justamente porque o
espírito missionário é fraco; em segundo lugar, coloca o fundamento
teológico com grandes desdobramentos também na forma de se compreender a
Igreja – a fundamentação trinitária da missão, como fonte, estrutura
(modo comunitário de se organizar) e meta da Igreja e da própria
sociedade. Este novo paradigma leva também à afirmação de que a missão
deve sempre ser olhada em sua dimensão universal (catolicidade) e local
(a Paróquia, Área Pastoral, Área Missionária) sobretudo este último como
espaço de missão.
Dez anos depois, o Papa Paulo VI
publicou uma Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi (8/12/75) sobre a
Evangelização no mundo contemporâneo, onde evitou o uso da palavra
missão colocando em seu lugar evangelização. Neste documento temos um
conceito de evangelização até hoje ainda não superado, que poderia
servir de parâmetro para qualquer nível de Igreja saber se o que está
fazendo é de fato evangelização ou não (confiram os números 18 – 20).
Em 1992 aconteceu a IV Conferência do
Episcopado Latino Americano, em Santo Domingo sobre a Nova
Evangelização, Promoção Humana e Cultura Cristã, mas a ideia central da
Conferência e do respectivo texto é a Nova Evangelização. O Papa João
Paulo II afirma que “a chamada nova evangelização, é antes de tudo uma
chamada à conversão (n. 1 do Discurso Inaugural), chama a atenção para
que ela seja nova no ardor, nos métodos e na expressão e o documento
explicita isto detalhadamente nos nn. 28 a 30, inclusive já aparecendo
pela primeira vez o termo conversão pastoral, repetido na Conferência de
Aparecida.(nn. 365, 366, 368 e 370).
Onde quero chegar? Poderia ter citado
outros documentos da área, o que seria impossível para este espaço, mas o
que afirmo é que as orientações sobre a missão da Igreja estão aí; a
lacuna existe e a prova é que ainda temos em nossas paróquias muitos
elementos da cristandade e não podemos continuar dando respostas que
foram importantes para outras épocas.
Entretanto, na missão, para a Igreja
cumprir sua tarefa de ser perita em humanidade, há um fundamento que é
ausente: que toda a ótica da pastoral missionária seja marcada pela
proximidade (entre os próprios agentes de pastoral, incluindo os padres e
dos agentes com os fiéis, os interlocutores).
O resultado desta proximidade pode
recuperar a sensibilidade pastoral diante da realidade, do sofrimento e
da miséria de nosso povo. A proximidade além de ser uma mediação que
leva à amizade ao mesmo tempo questiona a comunidade para situações que
são deixadas ao largo e substituída por outros acessórios, leva também a
busca de uma participação que tem desdobramentos sociais.
Por outro lado, esta proximidade
favorece, inevitavelmente, as relações humanas simétricas, de igualdade,
de não se sentir maior que os outros. Nisto o papa Francisco está
enchendo os olhos.
Por padre Almir Magalhães – sacerdote, diretor e professor da Faculdade Católica de Fortaleza.
Artigo publicado no Jornal O Povo, 2 de junho de 2013:http://www.opovo.com.br/app/opovo/espiritualidade/2013/06/01/noticiasjornalespiritualidade,3066825/missao-proximidade-e-relacao.shtm
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