A Teologia da Libertação alcançou, no ano
passado, 40 (quarenta) anos de sua existência, se considerarmos como ato teórico
fundacional que deu nome ao movimento teológico mais importante nascido na
América, o livro do Teólogo Peruano Gustavo Gutierrez, intitulado TEOLOGIA DA
LIBEERTAÇÃO, Perspectivas, de 1971.
Esta Teologia sofreu críticas internas e
externas, aceita por muitos, mal compreendida por outros, sofreu distorções em
torno de sua compreensão. Ela foi objeto de dois documentos oriundos da Sagrada
Congregação para a Doutrina da Fé: o primeiro, em 6 agosto de 1984 intitulado
Libertatis Nuntius, ( reflete sobre alguns aspectos da TdL) considerado mais
negativo e chamava a atenção para os perigos de desvios prejudiciais à fé e à
vida cristã, sobretudo em relação ao corte marxista da mesma; o segundo, em
22.3.86, intitulado Libertatis Conscientia, (sobre a Liberdade Cristã e a
Libertação), considerado como de um tom mais positivo. Este segundo documento
foi objeto de citação pelo Papa João II numa carta aos Bispos da CNBB datada de
9.4.86, por ocasião do encerramento da Visita Ad Limina, oportunidade em que o
mesmo assim se expressou:
Na medida em que se empenha por encontrar aquelas
respostas justas – penetradas de compreensão para com a rica experiência da
Igreja neste País, tão eficazes e construtivas quanto possível e ao mesmo tempo
consonantes e coerentes com os ensinamentos do Evangelho, da Tradição viva e do
perene Magistério da Igreja – estamos convencidos, nós e os Senhores, de que a
teologia da libertação é não só oportuna mas útil e necessária. Ela deve
constituir uma nova etapa – em estreita conexão com as anteriores – daquela
reflexão teológica iniciada com a Tradição apostólica e continuada com os
grandes Padres e Doutores, com o Magistério ordinário e extraordinário e, na
época mais recente, com o rico patrimônio da Doutrina Social da Igreja, expressa
em documentos que vão da Rerum Novarum à Laborem Exercens.
Dois aspectos continuam relevantes na TdL e
válidos para todos os cristãos: a práxis, ou seja, a TdL nos motiva para uma
prática, para uma concretude que se expressa em estar junto aos que sofrem, em
conhecer, participar, refletir e agir diante da vida dos irmãos e da natureza; a
mediação disso é a opção preferencial pelos pobres. Com as transformações
sociais estes tomaram novos rostos, mas continua o referencial do empenho pela
dignidade humana, pela defesa da vida. Esta presença cristã, na fidelidade ao
Evangelho é gestadora de esperança. Neste sentido, a TdL nos convida a uma
ascese: mudar o perfil de nossas práticas, restritas à vida íntima da Igreja,
sair da sacristia e ir ao encontro do próximo não para ensinar, fazer exigências
sacramentalistas, mas para partilhar, ser solidário.
O segundo elemento é de ordem
político-pedagógica: evitar o assistencialismo e a prática da caridade reduzidas
a cestas básicas, sopões e similares (a não ser em casos emergenciais) e
considerar o pobre como interlocutor, SUJEITO DE SUA HISTÓRIA, com motivações
evangélicas, como cidadãos do mundo, com deveres e direitos. Aqui o destaque é
para o valor da dignidade humana. O pobre não deve ser objeto de favores, de
concessões, de medidas compensatórias, mas pessoas capazes de construir, a
partir da esperança, um lugar, um bairro, uma sociedade diferentes.
Intriga-me sobremaneira as reações dos agentes de
pastoral (padres, leigos, bispos) sobre a TdL sem conhecê-la. Constroem seus
conceitos unicamente a partir de um patrimônio de críticas que foram elaboradas
e repetem-nas utilizando aquilo que criticam, o ideológico. Por isso faço um
convite – conheçam a TdL, leiam os dois documentos da Cúria Romana a respeito
dela, conheçam o Pensamento Social da Igreja, as Encíclicas Sociais… abram os
horizontes para além dos conceitos, idéias, chaves de leituras que concordam e
assim o diálogo com o diferente pode tornar-se frutuoso. Nada de fechamento.
*Sacerdote da Arquidiocese de Fortaleza, Dirietor
Geral e Professor da Faculdade Católica de Fortaleza.
Artigo publicado no Jornal O Povo em
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