Por Almir Magalhães*
O Papa Francisco não poucas vezes tem falado que
“os evangelizadores devem ter cheiro de ovelha” (cf. A Alegria do Evangelho, n.
24); talvez o que esteja por trás desta indicação seja a constatação antiga e
atual, já presente no Evangelho “Ovelhas sem pastor” (Mc. 6, 30-34). Parece que
Jesus está recordando as palavras do Profeta Ezequiel seis séculos antes. (Ez.
34).
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Sobre o assunto, o referido Papa no Capítulo I da
Exortação Apostólica A alegria do evangelho, de 24/11/2013, cujo título é A
transformação missionária da Igreja dedica uma breve reflexão sobre a Paróquia
que vale a pena transcrever para fazer um link com o título desta
contribuição.
“A paróquia não é uma estrutura caduca;
precisamente porque possui uma grande plasticidade, pode assumir formas muito
diferentes que requerem a docilidade e a criatividade missionária do Pastor e da
comunidade. Embora não seja certamente a única instituição evangelizadora, se
for capaz de se reformar e adaptar constantemente, continuará a ser “a própria
Igreja que vive no meio das casas dos seus filhos e das suas filhas”. Isto supõe
que esteja realmente em contato com as famílias e com a vida do povo, e não se
torne uma estrutura complicada, separada das pessoas, nem um grupo de eleitos
que olham para si mesmos… Temos, porém, de reconhecer que o apelo à revisão e
renovação das paróquias ainda não deu suficientemente fruto, tornando-se ainda
mais próximas das pessoas, sendo âmbitos de viva comunhão e participação e
orientando-se completamente para a missão” (n. 28).
A renovação das estruturas eclesiais tem um
endereço certo, prioritário: as pessoas, a vida do povo, o ser humano como
caminho da Igreja. Como já afirmamos em outras ocasiões, temos hoje muitas
atividades que são centradas no templo e não são motivadoras para uma
aproximação maior dos evangelizadores junto à vida do povo. Acredito que o
destaque deve ser dado à vida do povo, às pessoas e para tal pode-se fazer uma
pergunta que ao mesmo tempo é um indicativo de mediação importante no que toca à
proximidade às pessoas: Qual o tempo que se dedica hoje em nossas paróquias para
ouvir as pessoas? Evidente que se exclui aqui o Sacramento da Reconciliação que
não se enquadra no perfil de escuta que a pergunta sugere, além do tempo ser
insuficiente para um diálogo, uma partilha, uma forma de aconselhamento, já que
são muitas as pessoas feridas em nossa sociedade.
Por outro lado, qual o tempo que se dedica hoje
nas visitas domiciliares? No afã de tornar nossas paróquias mais missionárias,
tem-se feito um esforço deste tipo de presença, muitas vezes limitadas sobretudo
no âmbito da competência dos visitadores, sem a devida preparação para
desenvolver um diálogo que seja atraente e sobretudo gerador de vínculos que
pode gerar e não somente uma passagem rápida.
Enfim, o que está em jogo para que se aplique a
conversão pastoral e renovação eclesial? Parece que uma questão aparentemente
simples impede que se dê uma reviravolta e a tendência que ronda constantemente
a cabeça dos evangelizadores é a saudade da “cebola que ficou no Egito” (Cf. Num
11,5). São apegados ao que sempre fizeram e não percebem que o mundo mudou e que
precisamos contextualizar nosso processo de evangelização. Interessante notar
que na Exortação Apostólica aqui aludida, o Papa chama a atenção afirmando que a
pastoral de chave missionária exige o abandono deste cômodo critério pastoral:
fez-se sempre assim” e faz o convite a todos a serem ousados e criativos nesta
tarefa de repensar os objetivos, as estruturas, o estilo e os métodos
evangelizadores das respectivas comunidades” ( n.33).
O Papa Francisco está sendo aplaudido e
reverenciado pelas palavras e pelos gestos. Neste Ano da Esperança podemos olhar
para este grande líder espiritual e não só aplaudi-lo, mas sobretudo nós
cristãos olharmos para seus gestos evangélicos, tornar nossas pastorais mais
missionárias através de uma presença constante, de esperança especialmente junto
aos que mais sofrem, lamentavelmente hoje ovelhas sem pastor em função de nossas
outras prioridades e nos tornemos evangelizadores como cheiro de ovelhas. Feliz
2014.
*Padre da Arquidiocese de Fortaleza, diretor e
professor da Faculdade Católica de Fortaleza.
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