Em praticamente todas as
listas divulgadas pela imprensa especializada com prováveis favoritos para ser
escolhido o 266º papa da história está o gaúcho dom Odilo Scherer, arcebispo de
São Paulo.
Para muitos, nunca um brasileiro
esteve tão perto de se tornar papa. Já houve momentos na história recente da
Igreja em que um bispo brasileiro foi apontado como mais provável sucessor do
papa, como no caso do arcebispo de Salvador dom Lucas Moreira Neves, um dos
grandes “papáveis” durante toda a década de 90.
Próximo de João Paulo 2º, dom
Lucas, que foi prefeito da poderosa Congregação dos Bispos, parecia reunir todas
as qualidades necessárias para o trono de São Pedro.
Suas chances nunca puderam ser
testadas, porque ele morreu de complicações de diabetes em 2002, três anos antes
do conclave que escolheu Bento 16.
Scherer parece ser um candidato
da hora certa no lugar certo, por reunir uma série de qualidades importantes
neste particular momento que a Igreja vive. Mas quais seriam estas qualidades? E
quais seriam as desvantagens de Scherer na corrida papal?
Veja abaixo cinco prós e
cinco contras a candidatura do brasileiro:
A favor
1. Idade e
vigor. Scherer tem “apenas” 63 anos. Já houve papas bem mais novos ao
longo da história. Três deles tiveram menos de 25 anos – o último, Gregório 5º,
tinha 24 anos quando foi eleito em 996 -, mas, desde a Era Moderna, uma grande
experiência de vida e trabalho tem sido um pré-requisito nos conclaves. Joseph
Ratzinger tinha 78 anos quando foi eleito e se tornou Bento 16. Pelo menos
fisicamente, Scherer demonstra ter a saúde e o vigor necessários para enfrentar
os desafios do cargo.
2. Bom conhecimento da
Cúria, a máquina administrativa do Vaticano. De 1994 a 2001 ele serviu
na Congregação dos Bispos em Roma e saberia, portanto, da necessidade de
modernizar o órgão executivo da Santa Sé e torná-lo menos suscetível à corrupção
e a abusos financeiros.
3. Nome “limpo” no
escândalo de abusos sexuais que sacudiu a Igreja. O nome de Scherer não
figura em uma lista, divulgada há duas semanas, por uma associação de vítimas de
abusos sexuais cometidos por padres, com nomes de cardeais que teriam acobertado
casos de abusos ou tentado proteger acusados. Vários papáveis estão na
lista.
4. Sintonia com novas
formas de comunicação. Scherer tem conta no Twitter e tem demonstrado
saber fazer uso da mídia social. Um dos desafios do novo papa vai ser tentar
reverter a tendência de perda de fiéis para outras igrejas, e uma desenvoltura e
empenho na busca por novas formas de comunicação pode ajudar.
5. Candidato da América
Latina. Esse fato por si só, de representar a região que concentra
maior número de católicos no mundo, já pesa. E sua escolha passaria uma imagem
de busca por renovação. Vaticanistas apontam ainda para as raízes alemãs de
Scherer como uma possível vantagem, para torná-lo mais aceitável como um
candidato do “novo”, mas com um pé no “velho”.
Contra
1. Pouco conhecido pelos
cardeais. Vaticanistas dizem que os cardeais sabem pouco sobre o que
Scherer pensa ou suas intenções. Em se tratando de uma escolha para um cargo
vitalício, a falta de conhecimento sobre um candidato pode pesar muito. Pelos
relatos da imprensa, sua participação nas reuniões pré-conclave foram
opacas.
2. Candidato da América
Latina. Para alguns cardeais, isso pode ser visto como vantagem, mas
para outros pode ter o efeito contrário. A Igreja é conservadora, e os cardeais
sempre preferiram um europeu. Mesmo um candidato americano ou canadense seria
“novidade”. Muitos podem achar que ainda é cedo para um latino-americano –
afinal, foi dessa região que veio a Teologia da Libertação, que gerou
desconforto entre membros do clero.
3. Centrismo e falta de
arrojo. O portal católico Riposte Catholique faz essa crítica
a Scherer, responsabilizando-o pela falta de sucesso, à frente da arquidiocese
de São Paulo, em encontrar novos meios de tentar tornar a igreja mais atraente a
fiéis. As críticas de Scherer aos sermões-espetáculo do padre Marcelo Rossi
também não ajudaram. Os cardeais podem seguir a lógica e impor o questionamento
– se Scherer não conseguiu empolgar na maior diocese do país com o maior número
de católicos do mundo, conseguiria empolgar no comando da Igreja?
4. Visto como candidato
dos antirreformistas. Os cardeais sabem que Scherer é candidato
preferido de cardeais italianos que eram fortemente ligados ao papa João Paulo
2º e que teriam perdido influência sob o papado de Bento 16. “A candidatura do
cardeal Scherer pode sinalizar, para fora, uma renovação” diz a revista online
alemãKatholisches, “mas que visa, pelo menos para algumas constelações
do poder, deixar tudo como está ou mesmo tudo como era antes”.
5. Falta de
carisma. Scherer não tem o estilo de missionário carismático de João
Paulo 2º ou de seu colega latino-americano, o cardeal hondurenho Óscar Rodríguez
Maradiaga. Nesse ponto, ele parece ser mais alemão do que brasileiro – o que não
impediu Ratzinger de virar papa.
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