A renovação da Igreja, com o Concílio Vaticano II
e ampliado pelos documentos das Conferências de Medellín (1968), Puebla (1979),
Santo Domingo (1992) e por outros importantes documentos da Igreja, abriu
caminhos possíveis à Pastoral Afro-brasileira, numa visão crítica da realidade
social em que vive o povo brasileiro, o latino-americano e caribenho.A
Conferência de Puebla foi a grande precursora, na Igreja Católica, no seu
compromisso social de anunciar o Reino de Deus, denunciando todas as formas de
injustiça e de exclusão. Sua opção pelos pobres foi interpelada pela situação do
povo negro, marginalizado.
1. FAZENDO MEMÓRIA
No dia primeiro de setembro de 1978, realizou-se
na sede da CNBB, em Brasília, o Encontro de um grupo de estudiosos preocupado
com a evangelização do povo negro brasileiro. Dentro destas preocupações,
levantaram-se algumas propostas de trabalho que nortearam a reflexão: fornecer
subsídios para que, na elaboração do Plano Bienal da CNBB, fosse considerada
prioridade a evangelização do povo negro brasileiro.Elaborar síntese dos estudos
sobre os cultos afro-brasileiros, para serem levadas, pelos Bispos, à
Conferência de Puebla. Formar um grupo de estudos sobre os Evangelhos e os
Cultos afros.
Esse grupo seria ligado à Dimensão Missionário, a
Linha 2 da CNBB. Assim se constituiu o “Grupo-Tarefa”. Compareceram 14
participantes entre bispos, padres e religiosas. Desse grupo, participaram duas
pessoas Negras, conscientes do processo de marginalização e exclusão do povo
negro: Irmã Corina Rodrigues dos Santos-fmm e Padre Mauro Batista, cvd.
No decorrer desse trabalho de levantamento e
reconhecimento da religiosidade popular, encontraram pessoas negras que se
diziam católicas, mas não frequentavam a Igreja e apresentaram seus motivos.
Refletiram sobre esses dados concretos, buscando descobrir o que poderiam fazer.
Surgiu a ideia de se promover um Encontro dos bispos, padres, seminaristas,
religiosas e religiosos negros para discutir sobre que “espaço” ocupam na
Igreja. Esse Encontro foi assumido pela linha 2 da CNBB, sendo o responsável Dom
Ângelo Frosi. O Tema: “A realidade do Negro na Igreja.”
Aconteceu o segundo Encontro do “Grupo-Tarefa”, a
fim de preparar o Encontro dos Agentes de Pastoral Negros, a realizar-se nos
dias treze a quinze de fevereiro de 1980, na Casa de Encontros e Retiro das
Irmãs de Jesus Crucificado, em Capão Redondo, SP. Houve articulação,
comunicações e discussão sobre os assuntos e objetivos desse Encontro, que
refletiu sobre os temas: A realidade de Ser Negro na Igreja Católica no Brasil;
que espaço deve o Negro brasileiro, enquanto Negro e Cristão ocupar na
Igreja?
A CNBB convocou para uma reunião, no dia 19 de
junho deste mesmo ano, para, junto com o “Grupo Tarefa”, avaliar o Encontro de
fevereiro e prestar contas do trabalho realizado, a partir daquela data. Surgem,
então, os conflitos. O econômico tornou-se um peso. Como iniciar a caminhada? O
grupo deveria fazer a irradiação desta proposta assumida pelos cinco que
assumiram a coordenação. Dom Ângelo Frosi, com sua marcante presença, foi o
equilíbrio e força. O grupo sentiu segurança nas palavras e atitudes de Dom
Ângelo, na certeza de que havia alguém, na CNBB, a quem recorrer se necessário
fosse.
2. AÇÃO E ANIMAÇÃO MISSIONÁRIA: DIÁLOGO
“EVANGELHO E CULTURA AFRO-BRASILEIRA”
Em fevereiro de 1980, reuniu-se um grupo de
agentes de pastoral negros, para refletir sobre sua situação enquanto negros, na
vida eclesial. Esta reunião foi o primeiro passo para o surgimento do “Grupo de
União e Consciência negra”, criado no primeiro encontro nacional, em Brasília,
realizado de 5 a 7 de julho de 1981.
Na XIX Assembleia da CNBB (1981), o problema foi
de novo apresentado ao Episcopado, que reiterou seu empenho de dar atenção
particular à situação dos afro-brasileiros em sua atividade evangelizadora. A
CNBB incluiu também, em seus planos bienais de pastoral, encontros de reflexão
sobre diálogo entre evangelho e cultura, especialmente a indígena e a
afro-brasileira. Dar continuidade ao grupo de reflexão que assessora a CNBB no
estudo de problemas, no planejamento e na execução de atividades que visem
incrementar o diálogo afro-brasileiro. Organizar um núcleo de documentação sobre
grupos negros existentes, (irmandades, quilombos, movimentos, grupos
religiosos), seu patrimônio cultural, suas manifestações, celebrações, festas,
vida, etc. Elaborar uma reflexão a ser publicada na coleção de estudos da CNBB,
que apresente e divulgue toda problemática a respeito. Programar cursos para
agentes de pastoral, sobre religiões afro-brasileiras e realizar um encontro
sobre diálogo entre evangelho e religiões afro-brasileiras.
Nos dias 30 e 31 de outubro de 1982, em São
Paulo, a Dimensão Missionária (Linha 2) com o Conselho Episcopal Permanente
(CEP), realizaram um encontro de reflexão e estudo sobre a situação
afro-brasileira.
Procurando acompanhar a “avaliação global da
caminhada da CNBB e a definição de diretrizes pastorais para o próximo
quadriênio”, a reunião teve por objetivo “refletir sobre perspectivas pastorais
que brotam da realidade afro-brasileira, para sugerir pistas e propostas
oportunas a serem inseridas nas Diretrizes Pastorais da CNBB para o período
1983-1987”.
O roteiro da reunião inspirou-se no “instrumental
de avaliação” proposto pela Secretaria Geral da CNBB a todos os organismos e
comunidades eclesiais, como contribuição para a próxima Assembleia dos Bispos,
em abril de 1983. Pontos importantes: a igreja no Brasil vem tomando consciência
do dever de anunciar o Reino de Deus: reino de justiça, verdade, fraternidade,
dignidade humana e a paz. Por isso, vem assumindo a opção pelos pobres,
oprimidos, marginalizados. Nesta opção, ela é questionada e interpelada pela
situação dos negros, em geral duplamente marginalizados.
Em 1983, na Catedral da Sé, em São Paulo, durante
a Ordenação de Pe. Laurindo Batista de Jesus, conhecido por Pe. Batista, foi
proclamada pelo Pe. Antônio Aparecido da Silva (Toninho), a criação da Pastoral
do Negro, com sede à Rua Itabatinguera, São Paulo, SP.
Em 1988, realizou-se a Campanha da Fraternidade,
conquista dos agentes de pastoral negros e outros grupos, com o Tema:
“FRATERNIDADE E O NEGRO” e o Lema: ”OUVI O CLAMOR DESTE POVO”.
Os bispos que assumiram totalmente a CF, chegando
a convidar padres e religiosas negras para refletir nas Assembleias Diocesanas,
o conteúdo da Campanha e a situação dos afros-descendentes no Brasil e iniciar
grupos na Diocese.
O Grupo de Reflexão Negro e Indígenas (GRENI) foi
assumido pela CRB nacional, em setembro 1993, no Encontro, Mutirão da Vida
Religiosa na cidade de Antônio Carlos-MG. Teve a participação de 360
participantes religiosas e religiosos das várias congregações e que assumiam
serviços nos diversos setores da Igreja e nas congregações. Ficou constituída
uma coordenação.
3. O SECRETARIADO DE PASTORAL
AFRO-BRASILEIRA
Depois de várias reflexões junto à hierarquia da
Igreja Católica, podemos sentir o apoio da CNBB, convocando algumas pessoas que
formaram o Grupo de Trabalho Permanente da Pastoral Afro-brasileira (GTA), para
refletir sobre a possibilidade de ser criado um Secretariado da Pastoral
Afro-brasileira, no prédio da CNBB, ligado à Presidência da mesma. Este Grupo se
reuniu no dia 13 de novembro de 1996, em São Paulo. Após dois anos, deu-se
início o processo de instalação do referido Secretariado, no dia 03 de abril de
1998. Irmã Maria Raimunda Ribeiro da Costa- MJC, aceita o convite, assumindo a
organização inicial, consciente de que era mais um espaço conquistado em
benefício da comunidade negra, a ser ocupado. Em agosto de 1996, a CNBB convidou
algumas pessoas comprometidas para formar o Grupo de Trabalho da Pastoral
Afro-brasileira – GTA.
Para assumir a Secretaria da Pastoral
Afro-brasileira foi convidado o Pe. José Enes de Jesus, do Clero da Arquidiocese
de São Paulo. Como estava comprometido com a sua Paróquia, convidaram o Pe.
Jurandyr Azevedo Araujo, sdb, da Inspetoria Salesiana de Minas Gerais. Depois de
oito anos, assume o Secretariado, Pe. Ari Antônio dos Reis, do clero da
Arquidiocese de Passo Fundo, RS.
Desde a sua criação, contou com a presença de um
Bispo Referencial, que coordena em nome da CNBB, inicialmente Dom Gilio Felicio,
da Diocese de Bagé, RS. Atualmente, é o bispo Dom João Alves dos Santos, OFMCap,
Bispo de Paranaguá, PR, que a preside.
Os grupos existentes elaboraram em mutirão, o
Documento de Estudo da CNBB “Pastoral Afro-brasileira”, nº 85; a Pastoral
Afro-brasileira passou a pertencer à Dimensão Sócio Transformadora e, até hoje,
a Comissão Episcopal para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz, Comissão 8
da CNBB, ao Secretariado de Pastoral Afroamericano, do CELAM e ao Pontifício
Conselho Para o Diálogo Inter-religioso (Roma).
Completando vinte e cinco anos de existência, o
Secretariado de Pastoral Afro-brasileira, em sua finalidade, quer ser um Centro
onde, redescobrindo o movimento de vida, seja um lugar de estudos, pesquisas,
documentação e intercâmbio com outros grupos e países, como Centro de irradiação
da Pastoral Afro-brasileira e sua Ação Evangelizadora em nosso Continente.
A Pastoral Afro-brasileira tem muitas ações que
se concretizam com os Agentes de Pastoral Afro-brasileira (APNs), nos Congressos
das Entidades Negras (CONENC), no Instituto Mariama (IMA) e nos Encontros de
Pastoral Afroamericana (EPA) para uma prática evangelizadora.
Celebramos com alegria estes 60 anos da CNBB,
pelo apoio, pelo incentivo, pelo cumprimento de sua missão que é a mesma da
Pastoral Afro-brasileira, “a evangélica opção preferencial pelos pobres,
integrante do Objetivo Geral da nossa Igreja que, desde seus primeiros planos
pastorais, exigiu, nesses anos cruciais, uma mística ainda mais evangélica, uma
maturidade maior na sua ação apostólica.” (Cardeal Raymundo Damasceno Assis, na
50ª Assembleia Geral dos Bispos do Brasil, em abril de 2012, Aparecida (SP).
Dom João Alves dos Santos,
OFMCap
Bispo responsável pela Pastoral
Afro-Brasileira
Pe. Jurandyr Azevedo Araujo,
sdb
Coordenador Nacional da Pastoral Afro-Brasileira
Nenhum comentário:
Postar um comentário