Repensar nosso modo de fazer missão significa
avaliar que metodologia estamos utilizando, como este processo se torna
educativo.
Por Almir Magalhães*
Logo no início do Documento de Aparecida, há uma
afirmação contundente que desafia nossa compreensão e consequentemente nosso
modo de desenvolver nosso processo de evangelização. O documento afirma no n. 11
“A Igreja é chamada a repensar profundamente e a relançar com fidelidade e
audácia sua missão nas novas circunstâncias latino americanas e mundiais”.
Dois verbos dão ênfase à frase em apreço –
repensar e relançar. Repensar nosso modo de fazer missão significa avaliar que
metodologia estamos utilizando, como este processo se torna educativo, se vai
amadurecendo o modo de compreender qual o papel da Igreja, sobretudo quando se
volta para si mesma para tomar consciência de que é servidora do mundo, se todos
os que estão envolvidos no processo são considerados como interlocutores e não
destinatários, numa relação simétrica, dialógica e não autoritária, se leva em
consideração a articulação entre os três eixos fundamentais do significado da
missão no referido documento = discipulado-missão-vida, dando uma compreensão
total dos elementos constitutivos da missão.
Repensar e relançar a missão numa sociedade em
profundas e rápidas mudanças significa não repetir fórmulas que podem ser
consideradas caducas que foram válidas para determinado momento da história mas
que hoje não ajudam na transmissão da fé. Neste sentido, vale a pena avaliar
toda a nossa pastoral, seja ela de preparação para a recepção dos sacramentos ou
outras mediações, que precisam ser pastorais conteúdos missionários.
Repensar e relançar a missão significa
aproximar-se de duas práticas que têm um peso popular muito grande, que são as
missões populares e visitas missionárias. No que diz respeito às missões
populares, geram a impressão de que podem tornar nossas paróquias mais
missionárias. Elas podem ser consideradas como um momento de animação
missionária de valor, mas não transformam nossas paróquias, porquanto, terminado
o processo das mesmas, as paróquias continuam com a mesma estrutura, a catequese
de iniciação à vida cristã (batismo, 1a. Eucaristia e Crisma) continuam com a
fórmula anterior, não conduzem para aquilo que está destacado acima, para o
discipulado (seguimento de Jesus) e não toca na vida das pessoas especialmente
aquelas mais machucadas que precisam da nossa solidariedade, não encara os
desafios do meio ambiente.
Por outro lado, tem-se desenvolvido muito hoje em
dia em nossas atividades as visitas domiciliares. Considero-as importantíssimas
porque se trata de uma atividade que põe as pessoas em contato mútuo, numa
perspectiva de relacionamento, desde que se constituam em um ministério da
visitação, como atividade permanente, com os missionários sendo preparados para
exercerem tal ministério, evitando assim improvisações que podem causar
embaraços. Muitas experiências negativas têm acontecido neste campo, quando
estas visitas são utilizadas para se saber quem não é casado, batizado, ainda
não fez primeira eucaristia… ora, afinal de contas o agente externo, o
visitador, está “invadindo” um ambiente que não é seu. Estas visitas podem
também se revestir de uma eficácia enorme, quando o missionário faz discretas
anotações daquilo que percebeu e a paróquia institui um momento de partilha e
socialização da experiência, não apenas para uma avaliação da iniciativa em si,
mas também das percepções de fatos da vida das pessoas que exigem a
solidariedade e a presença da comunidade eclesial como resposta, como
testemunho.
Uma igreja (paróquia) em estado permanente de
missão irradia o anúncio do evangelho em todo o seu território. Descentralizando
este território em setores ou áreas, dá vida aos mesmos e no processo de
evangelização gesta proximidade entre as pessoas e visibilidade da comunidade
eclesial. Não basta descentralizar, é importante que estes setores se
movimentem, tenham vida eclesial.
O Documento de Aparecida já tem cinco anos de
existência. Que provocações ele despertou em sua paróquia?
*Almir Magalhães é padre da Arquidiocese de
Fortaleza, diretor Geral da Faculdade Católica de Fortaleza e mestre em
Missiologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana.
Artigo publicando
no JORNAL O POVO
no dia 17 de fevereiro de 2012.